A Santos-baixa precisa ser preservada
Do dia para a noite – e olha que às vezes não é figura de linguagem não: é do dia pra noite mesmo –, a gente passar por um lugar em Santos e vê que o que tinha ali foi posto ao chão para dar lugar a um arranha-céu. Mas, caminhando pela cidade com olhos mais atentos, sem pressa de chegar e meio sem destino, nos bairros das zonas intermediária, leste e mesmo da orla ainda é possível encontrar casas baixas, sobrados, vilas e até chalés que parecem resistir à sanha imobiliária.
Alguns exemplos dessa Santos engolida por espigões? Umas voltas ali pelas ruas do Campo Grande e a gente se depara com moradias cuja porta de entrada dá direto para a rua, com edifícios de no máximo três andares, casas antigas adaptadas para consultórios ou estabelecimento comercial. Na Vila Mathias predominam esses, os estabelecimentos comerciais e de serviços ocupando imóveis baixos. No Macuco, há uma região que até leva o nome de “Casas Populares”.
Até quando tudo isso estará de pé, não se sabe. No entanto, não basta “estar de pé”. É preciso estar de pé com dignidade. São, boa parte desses pontos citados, áreas desinteressantes ao mercado imobiliário e – talvez por isso mesmo – nitidamente esquecidas pelo poder público. Principalmente no Estuário, Macuco, Vila Mathias, Vila Nova, pra ficar apenas nessa parte da cidade, sem subir os morros nem cruzá-los rumo à Zona Noroeste, a degradação é cada vez maior.
Se em frente aos condomínios altos e luxuosos a calçada é bem cuidada, os canteiros e pracinhas das cercanias têm verde, nessa Santos-baixa os passeios estão esburacados, assim como as ruas e avenidas. Com exceção de uma e outra árvore, nessa Santos-baixa predomina o cinza e faltam espaços públicos de lazer. Os poucos existentes são tomados por mato, entulho e caminhões largados.
A Santos-baixa, parece consenso, precisa ser preservada. Mas deve ser integrada aos bens e serviços que se oferecem à Santos-alta, não é verdade?
Texto por Wagner de Alcântara Aragão – @waasantista