A arma secreta contra a vergonha feminina
Poucas coisas me impactaram mais do que ver a texana Brené Brown falar em um TED sobre vergonha, há alguns anos.
Descobri dezenas de pesquisas, palestras e cursos sobre o assunto.
Falar de vergonha parece estar na moda.
O tema é tão extenso e complexo e abrange tantos setores da vida que fica complicado desenvolver tudo aqui.
O que eu quero, hoje, é falar como a vergonha afeta a nós, mulheres, especialmente em relação à nossa aparência.
As mulheres e a vergonha
Desde que o mundo “civilizado” é mundo, vivemos numa cultura patriarcal: a força e o poder das mulheres foram contidos, impedidos, abafados, censurados.
As meninas aprendem, desde muito cedo, talvez desde o pecado original, a sentir vergonha de si mesmas.
Afinal, fomos nós, maquiavélicas, que estendemos a maçã ao homem, que ouvimos o chamado da serpente. Fomos nos as causadoras da expulsão do paraíso e as primeiras a sentir vergonha de nossos corpos nus.
A partir daí, vivemos reprimindo desejos e potenciais, em nome da manutenção da sociedade como a conhecemos hoje.
Sempre fomos nós quem nos sacrificamos mais, em termos emocionais. Os homens foram guerrear e nós travamos batalhas internas contra nossas próprias vontades e necessidades para “mantermos a paz” doméstica.
Essa vergonha ainda incide em nossos corpos, na eterna exigência de juventude e beleza padronizadas.
Nossos corpos passaram a ser tutelados por um modelo inatingível e essa também é uma forma eficaz de controle do poder feminino. Se nos aceitássemos mais como somos, a indústria da beleza perderia muito.
Sem vergonha
A vergonha detesta a exposição, é como expor um vampiro emocional à luz do dia. Revelar nossas fragilidades e imperfeições pode ser uma arma eficaz contra esse mal.
E as youtubers da nova geração sabem usar essa arma como ninguém.
Elas têm menos de 30 anos e desafiam os padrões impostos, falando abertamente de sexualidade, imagem corporal, racismo.
Meninas que jamais teriam espaço na mídia tradicional começam a aparecer na TV aberta, lançam marcas de lingerie, de shampoo, desfilam em passarelas e ditam moda Brasil afora. Estão inaugurando uma nova era na publicidade e forçando o mercado a repensar produtos e serviços voltados ao público feminino.
A revolução contra a vergonha, curiosamente, tem sido feita através da fragilidade e da vulnerabilidade. Reconhecer que somos imperfeitas, que talvez jamais iremos atingir determinados padrões de beleza e conduta pode ser altamente libertador.
Mas tudo tem um preço: correr o risco da exposição emocional, de nos vermos reais e não num modelo idealizado.
Ao deixarmos de lado a corrida pela perfeição, vai sobrar mais tempo pra vivermos nossas próprias vidas. E isso pode representar um grande desafio: escolher caminhos pouco convencionais ou tomar decisões que desafiam o senso comum ainda são atitudes arriscadas num mundo onde se encaixar é a norma.
Podemos sofrer nas mãos dos haters. Mas, em compensação, viveremos uma vida mais autêntica, fazendo finalmente as pazes com o espelho.