Texto porNathalia Ilovatte
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Jornalistas de “A Tribuna” protestam contra condições de trabalho

Na quinta-feira (11), boa parte dos profissionais da redação de “A Tribuna” e do “Expresso Popular” pararam de trabalhar por três horas, em protesto às condições de trabalho oferecidas pelo grupo “A Tribuna” e à recusa da diretoria em receber o Sindicato dos Jornalistas para discutir mudanças.

Os jornalistas, fotógrafos, diagramadores e ilustradores foram com carro de som, panfletos e faixas à rua João Pessoa, em frente ao prédio do jornal, para reivindicar pagamento de piso da Capital, plano de cargos e salários, aumento no vale-refeição e valor justo na participação de lucros da empresa.

Frente aos protestos, a diretoria de “A Tribuna” informou que um plano de cargos e salários será implantado em breve e que se reunirá com o Sindicato para discutir as demais reivindicações.

Falando como santista, e não como jornalista (até porque nunca trabalhei na Tribuna), espero que o plano de cargos e salários seja satisfatório e que os profissionais da empresa tenham um aumento salarial que faça jus aos custos da vida em Santos e um vale-refeição que, de fato, pague uma refeição.

Primeiro porque é no mínimo ridículo, para não dizer hipócrita, as empresas se comportarem como se Santos fosse uma cidadezinha de praia pequena e pacata em que tudo é mais simples e mais barato. A cidade ainda tem muito a se desenvolver em alguns setores, mas morar é caro, se locomover é caro, comer fora é caro. Portanto, se os salários não acompanharem isso, vamos todos morar na Praia Grande e nos encoxarmos todo dia no Terminal Tude Bastos.

E, fora isso, é do interesse do santista que a equipe de “A Tribuna” seja estimulada e que o grupo só tenha bons funcionários. É o único grande veículo diário impresso. O jornal não tem concorrentes, o santista se informa pelo jornal, e é a qualidade dessa informação que está em risco quando a equipe tem problemas. Ok, Santos agora tem blogs locais, mas levanta a mão o blogueiro que se enfia em delegacia, câmara e incêndio em favela.

As redes sociais podem ser muito úteis pra todo mundo ficar sabendo dos leads. O famoso “quem, o quê, onde, quando, como”. Mas os por quês dos fatos, pelo menos aqui, ainda são apurados por jornalistas competentes que dão a cara a tapa em vez de cozinhar release. Por isso, essa briga dos funcionários da Tribuna por melhores condições de trabalho não é só deles, ou só dos jornalistas solidários, mas de toda a população. É questão de interesse público.

A foto eu peguei do Yfrog da @flasaad.

Abaixo, a carta aberta aos santistas escrita pelo Sindicato:

A Tribuna não respeita jornalistas e leitores
O centenário jornal A Tribuna vem ignorando reivindicações da redação, apresentadas pelo Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo (SJSP), que visam melhorar as condições de trabalho para os jornalistas.

Esta postura é um desrespeito aos profissionais e, consequentemente, aos leitores, que não fazem a menor ideia da real situação que assombra o jornal nos últimos tempos – a combinação de desestímulo profissional com precarização do trabalho. Até o cafézinho está saindo do bolso dos jornalistas.

Recentemente, a Diretoria Regional do SJSP encaminhou ofícios solicitando encontro para resolver questões pontuais que há muito vem tirando o sono e causando insatisfação aos jornalistas – principais responsáveis pelo conceituado nome que A Tribuna ainda mantém na região. Porém, por intermédio de ofícios propositadamente equivocados, a Direção da empresa insiste em ganhar tempo e empurrar o problema local para debaixo do tapete.

As reivindicações são simples, para um jornal centenário e que detém praticamente 90% do mercado publicitário da Baixada Santista: pagamento do piso salarial da Capital para jornalistas, fotógrafos,  diagramadores e ilustradores; pagamento da diferença dos pisos para subeditores e editores; plano de cargos e salários; volta do pagamento do quinquênio; aumento do vale-refeição e Participação nos Lucros e Resultados (PLR) equivalente ao piso de cinco horas.

Por outro lado, no mesmo tempo que se mostra insensível aos apelos dos jornalistas da casa, A Tribuna promove eventos regionais bancados pelo poder público e iniciativa privada; realiza reformas no prédio da Avenida João Pessoa; congela salário da maioria da redação a ponto de jornalistas fazerem “bicos” para sobreviver e, o que é pior, explora mão de obra de estagiários, contrariando a Lei de Estágio do Governo Federal.

A situação está insustentável e, dia a dia, o jornal vem perdendo bons profissionais. Infelizmente, alguns se desligam da empresa por falta de incentivo profissional e outros por falta de saúde devido à intensiva pressão editorial, carga horária anormal (a ponto de jornalistas baterem o cartão e voltarem para trabalhar) e ambiente de trabalho que estimula a bajulação e a delação como formas rápidas de se alcançar promoção.

O resultado de toda essa dura realidade não poderia ser outro: a perda diária de leitores, pelo simples fato do jornal A Tribuna não estar respeitando o que é mais precioso numa empresa que vive da notícia: o jornalista.

Diretoria Regional do SJSP