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Violência contra a mulher em Santos

Santos é a cidade mais feminina do Brasil, como sempre repetimos nos conteúdos do Juicy Santos. A população feminina corresponde a 54.7% da população. Um dado a ser celebrado quando falamos da potência feminina. Do outro lado assustador, quando olhamos números sobre a violência contra a mulher em Santos.

  1. A cada 24 horas, 13 mulheres sofrem violência
  2. Em 2024, 9 vítimas de estupro por hora
  3. 78.463 casos de violência doméstica
  4. Uma morte a cada 17 horas no país.
  5. Crescimento de 1,6% nos boletins de ocorrência de violência contra a mulher em Santos em relação a 2023.
  6. Registros de violência em todos os bairros de Santos.
  7. Aumento em todas as modalidades de violência (física, psicológica, stalking, tentativa de homicídio, ameaças, tentativas de feminicídio)
  8. Em 2024, números significativos de importunação sexual, assédio sexual e divulgação de cenas de estupro/pornografia.
  9. Aumento de mais de 1600% nos crimes de feminicídio desde 2016

Esses dados reforçam a urgência e a necessidade de ações coordenadas e eficazes para combater a violência contra a mulher, tanto do ponto de vista do poder público, como de iniciativas individuais e do setor privado, afinal a violência está em todos os lugares.

E vale lembrar que temos muita subnotificação no caso de violência contra a mulher. Inclusive existe uma frase comum nesses casos:

– “Mas ele nunca me bateu”.

Esse é o nome de um Instagram conhecido que fala sobre esse tema. Que também já apareceu no Juicy, em um conteúdo feito em 2019 sobre como agir em casos de violência doméstica em Santos.

Pauta fundamental

No dia 24 de março de 2025, foi realizada na Câmara Municipal de Santos uma audiência pública sobre o tema, que enfatizou a necessidade da união entre a sociedade civil, o poder público e as instituições para enfrentar a violência contra a mulher.

A vereadora Renata Bravo destacou:

“se nós não tivermos o envolvimento da sociedade junto com o poder público junto da das instituições eu acredito que a gente não consiga avançar.”

A presença de representantes de diversas secretarias municipais (Mulher, Educação, Desenvolvimento Social, Segurança Pública, Saúde), do Ministério Público, da OAB, do Conselho da Mulher e de diversas organizações da sociedade civil demonstrou essa união de esforços no legislativo santista.

A audiência pública propôs como soluções:

  • Foco na empregabilidade para mulheres em situação de violência
  • Criação de um programa com as universidades locais para a formação humanizada de futuros profissionais
  • Fortalecimento e maior articulação da rede de apoio existente
  • Ampliação das iniciativas de educação e prevenção da violência desde a primeira infância
  • Criação de mais espaços para a discussão da violência com os homens, buscando sua desconstrução e engajamento na causa.

Violência contra a mulher

O dinheiro muda o jogo das mulheres

Durante a audiência pública, Dina de Oliveira, presidente do Conselho da Mulher, trouxe a questão da empregabilidade para mulheres saídas de situações de violência, destacando a importância de oferecer oportunidades de trabalho para garantir sua autonomia financeira e evitar que retornem à situação de violência por dependência econômica.

A sociedade demorou para entender que esse é um dos principais fatores que impede as vítimas de violência de denunciarem seus agressores ou mesmo as leva a reatar o relacionamento por não possuírem meios de subsistência.

Além disso, ainda que não sofram violência física, muitas mulheres se mantém em situações limítrofes de violência, por ausência da independência financeira. Esse recorte de independência e autonomia financeira impacta diferentes perfis das mulheres, onde precisamos considerar diferentes contextos, incluindo adolescentes, adultas, idosas, negras, com deficiência, mães, trabalhadoras, mulheres trans e sua situação geográfica.

Santos não é a mesma cidade para todas as mulheres, definitivamente.

O que já existe em Santos para combater a violência contra a mulher?

Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência (NAVV)
Inaugurado pelo Ministério Público em 20 de março de 2025, oferece apoio com psicólogas e convênio com a Unisantos. A unidade do Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência conta com atendimento psicológico, jurídico e social, destacando a importância da união de várias instituições para melhorar os direitos da mulher.

Casa da Mulher
Inaugurada em novembro de 2024, o local foi criado para ampliar a rede municipal de assistência com mais prevenção, segurança e oportunidades para as mulheres. Um serviço essencial que encaminha mulheres para outros serviços como CRAS e CREAS. No local, as mulheres vítimas de violência são ouvidas e terão defesa jurídica para suas vulnerabilidades. A casa também oferece capacitações para gerar oportunidade de emprego e liberdade financeira.

Abrigo Sigiloso e Casa de Passagem
A cidade de Santos dispõe desse serviço, um local sigiloso para acolher as mulheres. Em 2019 apenas 30 municípios paulistas – cerca de 4,6% do total do estado possuíam abrigos sigilosos para mulheres em situação de violência doméstica, segundo levantamento realizado pela Defensoria Pública de São Paulo. Hoje, das 645 cidades, 42 possuem o serviço, incluindo Santos.

Delegacia de Defesa da Mulher (DDM)
Apontada como um ponto crucial para o registro de ocorrências e investigação de casos.

CREAS e CRAS
Serviços essenciais da assistência social para o acolhimento e acompanhamento de mulheres em vulnerabilidade e situação de violência.

Guardiã Maria da Penha
Em funcionamento desde 2019, p Programa Guardiã Maria da Penha, da Guarda Civil Municipal (GCM) de Santos, combate o ciclo da violência contra a mulher realizando o acompanhamento de mulheres com medidas protetivas, levando informação e promovendo o emponderamento.

Casa das Anas
Em operação desde 2014 (já contamos essa história aqui), o serviço funciona como um lar para um momento de transição na vida de mulher vítimas de violência. As mulheres abrigadas na Casa das Anas já passaram por outros serviços sociais oferecidos pela prefeitura e lá têm a oportunidade de vivenciar uma rotina doméstica, com auxílio e respaldo assistencial para retomada de suas histórias.

O empoderamento econômico das mulheres, e não apenas um empoderamento conceitual é fundamental para quebrar ciclos de pobreza, de violência e promover a mobilidade social. Quando mulheres vencem, é uma vitória coletiva.

Através da capacitação profissional e do oferecimento de uma cidade com oportunidades e poder econômico para elas, quem sabe, chegaremos nos próximos anos com dados mais favoráveis dos que os relatados nesse março de 2025.

Ludmilla Rossi
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