Tudo o que rolou no primeiro dia do Festival CHAI de Vida e Carreira
Os temas autoconhecimento, felicidade, criatividade e futuro profissional foram o centro dos debates do primeiro dia do Festival CHAI de Vida e Carreira.
Pela primeira vez, a sociedade convive com 4 gerações diferentes no mercado de trabalho. E o que isso significa no presente e no futuro? Esse e outros questionamentos permearam as conversas da estreia do evento. Profissionais, gestores, líderes, estudantes e empreendedores lotaram o salão principal do Juicyhub para ouvir e trocar experiências em um ambiente inclusivo e interativo com protagonistas de setores como tecnologia, diversidade, educação e saúde mental.
Na abertura, a CEO do Juicyhub, Ludmilla Rossi, anunciou a Nita Alimentos como nova mantenedora do primeiro hub de inovação da Baixada Santista.
Enquanto rolavam as palestras e painéis, o público também teve a oportunidade de apoiar empreendedoras em início de jornada na Feira CHAI. E quem passou por lá também conseguiu se cadastrar gratuitamente no Portal da Empregabilidade Baixada Santista, iniciativa que acaba de chegar à região para conectar candidatos a vagas e empresas.
Veja alguns dos destaques do primeiro dia do Festival CHAI
O painel Não vejo propósito no meu trabalho. E agora? trouxe Ana Camila de Souza, Angelica Mari e Paula Carneiro falando sobre a realidade de carreiras não-lineares em um mundo em que se criam narrativas sobre empreendedorismo, liberdade de tempo ou mesmo fantasias profissionais. Afinal, quem nunca sentiu a falta de propósito no trabalho?
A mediadora Angélica Mara destacou um estudo recente global da Deloitte que apontou 91% dos respondentes da geração Z e 92% dos millennials acreditam que é fundamental que a carreira tenha um propósito.
Ana Camila ressaltou que a transição de carreira por propósito está relacionada a um grande privilégio.
“Há muitos e muitos jovens que sustentam suas famílias e não podem se dar ao luxo de apenas buscar um propósito. O dinheiro é importante. E quando se empreende ele também não pode ser o principal motivo da sua transição de carreira, já que ele não vem com a facilidade como se espera”
Para quem está se sentindo perdido e sem propósito, Ana Camila recomenda identificar paixões e habilidades e encontrar algo que nos realize colocando isso literalmente no papel e também se planejar financeiramente. A paciência também é importante, porque não dá certo de primeira. Se conectar com empreendedores que estão passando pela mesma jornada é fundamental para saber que não se está sozinho.
Já Paula, em sua transição de carreira, começou a mapear o mercado e pedir ajuda. Para sua surpresa, encontrou muita generosidade nesse processo.
“Acredito muito no caminho das conexões para abrir portas. Mandava mensagem no LinkedIn para pessoas pedindo um papo pra entender os cenários. Sentia muito medo de pedir isso, mas elas respondiam e colaboravam com esse caminho. Mas mantenha-se firme e entenda o que é importante para você”.
Autoconhecimento: o maior superpoder para a felicidade profissional teve Andrea Umbuzeiro, Achala Andrea e Nathália Aoão trocando ideias sobre o quanto a consciência sobre seus próprios desejos, sonhos e limitações pode te aproximar cada vez mais da sua realização. E as transformações que o autoconhecimento consegue promover ajudam na contínua transformação.
“Quanto mais você se conhece, mais se torna forte. Mas, de fato, é um privilégio saber seu propósito, porque às vezes, você sabe qual é, mas não pode exercê-lo. Você precisa se apropriar do seu propósito, porque o sistema te engole e não te permite, todo mundo precisa comer e ter um teto. Conciliar propósito com o trabalho é o ideal, mas nem sempre é possível com a nossa realidade”, afirmou Andrea Umbuzeiro.
Achala apontou, ainda que os soft skills, tão valorizados pelo mercado, começam a ser formados na infância. E que como lidamos com os muitos desafios que surgem na vida adulta e profissional tem total relação com aquilo que passamos na infância.
“E as empresas também precisam mudar seu olhar para as individualidades. Olhar para a cultura organizacional dessa forma não é uma utopia, é o futuro”, diz Andrea.
Não sufoque o talento
Rodrigo Vergara colocou a galera pra conversar sobre as situações de falta de diálogo no trabalho. Tudo isso para explicar o conceito de segurança psicológica. Esse termo, que foi reconhecido pelo Google a partir de 2016 como um grande diferencial de equipes com altos resultados e produtividade, significa que, quando há insegurança e medo, ninguém reclama.
O papo trouxe dados interessantes de Amy C. Edmondson, professora da Harvard Business School e que há mais de vinte anos pesquisa a segurança psicológica e mostram algo que deveria ser óbvio, mas não é: times mais eficientes são aqueles onde as pessoas se sentem seguras para serem quem são. E não é só sobre se sentir bem – é sobre resultados mesmo. Vergara destacou que é muito mais barato (e garantido) ter as contribuições do time quando elas vêm de forma espontânea e colaborativa do que quando precisam ser “arrancadas” num ambiente de pressão.
Ele lembrou que cada pessoa tem experiências únicas e é justamente essa diversidade que torna os ambientes de trabalho mais ricos e inovadores.
“Ninguém sabe o que você sabe. Tem coisas que só você viveu, na riqueza de um grupo é que está a contribuição genuína”, explicou.
Para os líderes, um recado: gerenciar talentos não é sobre sufoca-los, e sim deixá-los florescer.
Por que insistimos em diminuir o Brasil?
Ingrid Barth falou sobre essa mania de falar mal do Brasil e propôs uma reflexão: a quem interessa que a gente tenha essa autoestima baixa como país?
Pois é, segundo está mais do que na hora de aposentar esse comportamento que nasceu no Brasil colônia e foi se transformando ao longo dos anos. Em uma palestra cheia de energia, mostrou dados que surpreenderam até os mais pessimistas: somos um dos maiores ecossistemas de startups do mundo. Nenhum país no planeta conseguiu o que fizemos – criar mais de 30 unicórnios em apenas 5 anos.
Mas por que a gente não sabe disso? Ingrid, que participou do G20 na Índia, conta que descobriu lá fora uma verdade incômoda: todo mundo adora o Brasil, mas ninguém lembra da gente na hora de fazer negócio. E não é por falta de competência. Somos inovadores, resilientes e, diferentemente do que muitos pensam, trabalhamos muito – e bem. O brasileiro médio é criativo, acelerado e tem uma capacidade única de resolver problemas – características super valorizadas no mundo dos negócios.
As falácias sobre o Brasil são muitas: que não temos segurança, que não sabemos inovar, que não falamos inglês… Mas a realidade é bem diferente. Temos potência em startups, fintechs, agro, moda e cultura, entre tantas outras coisas. Só o Carnaval, lembrou Ingrid, é um projeto que dura o ano inteiro e gera trilhões de dólares (sem exagero!) para o país. E não é só no eixo Rio-SP não! Somos uma potência distribuída, com empreendedorismo de base forte em todo território nacional.
Ingrid propõe um desafio: que tal virarmos embaixadores do Brasil? Com a presidência do G20, os BRICs e a COP nos próximos meses, temos uma janela de oportunidade única para mostrar nossa real força.
Em busca do ecossistema criativo
Em uma palestra inspiradora sobre cidades criativas e desenvolvimento territorial, Ana Carla “Cainha” Fonseca trouxe reflexões fundamentais sobre como a criatividade local pode ser o motor de transformação urbana que tanto precisamos. Para ela, não se trata apenas de implementar projetos isolados, mas de construir verdadeiros ecossistemas criativos – ambientes vivos e oxigenados que estimulam constantemente o pensamento inovador.
A especialista destacou a importância do “genius loci”, ou seja, a alma única de cada lugar, formada pelas histórias, relações e singularidades do território. Usando exemplos de sucesso como Seul e Medellín, Cainha demonstrou como cidades podem se reinventar quando conseguem identificar e potencializar suas vocações naturais. Um caso brasileiro interessante citado foi Maripá (PR), que conseguiu transformar características únicas da cidade em oportunidades de negócio.
O mapeamento afetivo e o entendimento profundo do território aparecem como ferramentas essenciais nesse processo. Segundo Cainha, não é possível criar vínculos reais com um espaço sem conhecer as histórias das pessoas que nele vivem e produzem. Para construir uma cidade verdadeiramente criativa, Cainha enfatiza que é preciso ir além da arte – a cultura, em seu sentido mais amplo, é a verdadeira alma do lugar. São necessários elementos como talentos qualificados, boa conectividade, sustentabilidade e governança participativa. Mas, acima de tudo, é fundamental estimular nos jovens a capacidade de sonhar e ousar, remendando os tecidos culturais e sociais que foram esgarçados ao longo do tempo.
Robôs e nós
Em uma provocadora “aulestra”, Claudio Yamaguchi desafiou o público a repensar nossa relação com tecnologia e produtividade, destrinchando mitos sobre automação e competências humanas. Com exemplos surpreendentes, como o fato de que operar um elevador já foi considerado uma habilidade extraordinária, o palestrante mostrou que a verdadeira questão não é competir com máquinas, mas entender nosso papel único como humanos. ”
A busca pela performance e produtividade a qualquer custo é insalubre”, alertou, enfatizando que não precisamos – nem devemos – nos comparar com robôs.
Uma das reflexões mais poderosas da apresentação foi sobre a evolução do propósito produtivo: se no passado a questão era “o que e quando produzir”, hoje precisamos focar no “para quem e por quê”. Yamaguchi defendeu um olhar mais humanizado e sistêmico, onde as pessoas não são apenas o centro, mas também o entorno das soluções.
Inclusão verdadeira
Com dados impressionantes, Wagner Tedesco, da UniSantos, abriu os olhos do público para uma realidade frequentemente invisibilizada: entre 15% e 20% da população global apresenta alguma forma de neurodivergência, mas apenas uma em cada dez organizações inclui esse tema em seus programas de inclusão. O palestrante alertou que essa proporção deve se inverter em breve no ambiente educacional, com mais alunos neurodivergentes do que neurotípicos, tornando ainda mais urgente a discussão sobre inclusão verdadeira no mercado de trabalho.
Em um momento especialmente inspirador da palestra, Tedesco apresentou o PIP-Tea, programa pioneiro da UniSantos que começará em maio de 2024 após mais de um ano de planejamento. A iniciativa vai muito além da mera inserção profissional, focando no desenvolvimento integral de pessoas com TEA através de atividades como produção de podcasts e práticas em laboratórios de gastronomia. O projeto evidencia a diferença entre simples inserção e verdadeira inclusão profissional, envolvendo não apenas os participantes, mas também suas famílias e as organizações em um processo de transformação coletiva.
Viver pra trabalhar ou trabalhar pra viver?
Em um bate-papo profundamente pessoal e reflexivo, Daniel Dworecki compartilhou sua jornada marcada por três ciclos de burnout, transformando suas próprias feridas em sabedoria e propósito. E mostrou dados alarmantes: 54% da força de trabalho global está ativamente desengajada, gerando um custo anual de R$ 45 trilhões, e introduziu conceitos como “burn on” (que precede o burnout), “quiet ambitioning” e “middlescence” – uma espécie de segunda adolescência, mas com repertório. Em meio a tantos termos técnicos, uma frase ecoou com força especial: “Toda vez que eu digo não a alguém, estou dizendo sim a mim mesmo.”
Com mais de uma década de experiência liderando equipes, Domingues propôs uma revolução na forma como enxergamos a relação com o trabalho:
“O trabalho é um pedaço da minha vida, e não o contrário”
Logo em seguida, juntamente com Vânia Bueno, chamou a plateia do CHAI a refletir sobre a coerência nas organizações e lideranças em que trabalham por meio de uma série de perguntas.
E a dupla concluiu: empresas que atuam com coerência vão mais longe e criam um melhor clima. E pessoas querem se encontrar pelo o que elas fazem, não pelo que elas são. Portanto, sempre que possível, devemos procurar organizações, na vida profissional ou pessoal, em que essa coerência existe.
Gentileza no mundo do trabalho
Angélica Mari voltou ao palco do CHAI para fechar o primeiro dia, com o tema Carreiras com amplitude: como ser gentil consigo em uma jornada profissional múltipla?.
Em uma fala emocionante, a jornalista provocou o público a repensar nossa relação com a angústia e o desconforto do não-pertencimento.
“Independência pra mim era poder mudar de ideia. Eu não precisava mais de respostas prontas, eu precisava despertencer”, compartilhou, trazendo uma perspectiva revolucionária sobre liberdade.
Com sensibilidade única, Mari nos lembrou que, paradoxalmente, as respostas que tanto buscamos podem estar justamente na angústia que tentamos evitar, e que sonhar não é apenas um exercício de imaginação, mas um verdadeiro privilégio – assim como a possibilidade de realizar esses sonhos.
Para ela, o futuro está justamente nessa coragem de explorar o novo através dos sonhos e de abraçar as incertezas como parte fundamental do processo de crescimento.
Assista aqui à transmissão completa do primeiro dia do Festival CHAI de Vida e Carreira
Neste domingo, tem mais! O Festival CHAI (Conhecimento, Habilidade, Atitude e Inovação) de Vida e Carreira continua com painéis, palestras e dinâmicas colaborativas que promoverão o autoconhecimento, contextos da nova economia e novos repertórios, além da feira CHAI.
O Festival CHAI de Vida e Carreira e a Feira CHAI são possíveis graças ao patrocínio da Universidade Católica de Santos (UniSantos), Nita Alimentos, Portal da Empregabilidade Digital – Região Metropolitana da Baixada Santista, Espaço Umbu e Associação Comercial de Santos. Além disso, contamos com o apoio de Transbrasa, Cursino & Teodoro da Silva Advogados, Minimal Design, Elemídia e Programa JB.