Ondas de calor: a verdade por trás do verão sufocante na Baixada Santista
Se você esteve em Santos ou outras cidades da Baixada Santista neste verão, com certeza se deparou com manchetes sobre as ondas de calor que assolaram a nossa região. No final de fevereiro, vivemos a quarta onda de calor no Brasil só em 2025. Na Baixada Santista, os termômetros chegaram a registrar 41,4ºC à sombra e a chocante sensação térmica de 50ºC. A sensação digna de regiões desérticas, combinada com um sol intenso, tornou os dias dos santistas extremamente difíceis.
Muitos insistem em afirmar que esse cenário sempre existiu por aqui e que esse seria apenas “um verão mais quente”. Então, vamos conversar sobre o que realmente está acontecendo?
Entenda as ondas de calor na Baixada Santista
Uma onda de calor ocorre quando as temperaturas máximas diárias ultrapassam em cinco graus ou mais a média mensal durante, no mínimo, cinco dias consecutivos.
Regiões litorâneas como a da Baixada Santista costumam sofrer ainda mais com essas temperaturas devido à presença da Serra do Mar. Meteorologistas da região explicam que, durante o dia, com o aquecimento, ocorre a chamada “pressão adiabática”: o ar desce das montanhas mais quente e escoa para a parte mais baixa, potencializando o calor.
Então, a Baixada Santista sempre foi quente assim?
Como já entendemos, as cidades do litoral tendem, sim, a serem mais quentes durante o dia, se comparadas com o interior do estado.
Porém, ondas de calor são consideradas eventos climáticos extremos, assim como estiagens e secas, incêndios florestais e enxurradas e enchentes. E todos esses eventos têm se intensificado pelas mudanças climáticas.
Um estudo divulgado pelo ClimaMeter em 2024 reafirmou que, de fato, as mudanças climáticas causadas pela ação humana estão intensificando as ondas de calor registradas no Brasil.
Davide Faranda, um dos líderes do estudo, explicou que há contribuições do fenômeno natural El Niño e do aquecimento das águas do Oceano Pacífico e Atlântico, mas destaca que a influência humana é a mais grave:
“Aqui podemos realmente separar a contribuição do que chamamos de variabilidade climática natural e das alterações climáticas provocadas pelo homem. E vemos que o efeito das mudanças provocadas pelo homem é o mais forte”, afirma Faranda.
Nada de glamuroso nas ondas de calor
É comum vermos reportagens sobre as ondas de calor sendo ilustradas com imagens de pessoas se divertindo nas praias cheias. Mas a realidade para os moradores não é tão glamourosa.
Em bairros periféricos, onde há menos árvores e mais concreto, as temperaturas podem ser até 10ºC mais altas do que áreas ricas e arborizadas.
E quem mais sofre com o calor extremo são os trabalhadores, que precisam atravessar a cidade de transporte coletivo. E, muitas vezes, trabalham em locais precarizados e sem ar condicionado. Além disso, as mulheres tendem a ser ainda mais atingidas por terem dupla ou tripla jornada de trabalho.
Santos está preparada para a crise climática?
Atualmente, a cidade conta com o Plano de Ação Climática de Santos (PACS), que tem como horizonte de longo prazo para sua implementação o ano de 2050 e horizontes de curto prazo, para 2025, e de médio prazo, para 2030.
O PACS define estratégias, diretrizes e metas de adaptação e mitigação para enfrentar a crise climática e as vulnerabilidades socioambientais do município. A expectativa é que, até 2050, Santos zere suas emissões líquidas de Gases de Efeito Estufa, tornando-se carbono neutra, e seja ainda uma cidade inclusiva, sustentável e resiliente aos impactos climáticos.
Você pode acessar o plano completo no site da Prefeitura de Santos – e acompanhar de perto o trabalho dessa gestão municipal e das próximas. A nós, cabe cobrarmos ações que priorizem a redução de emissões de carbono, a ampliação de áreas verdes e uma cidade caminhável, em que carros não sejam prioridade.