5 filmes para conhecer realidades de Santos
Uma cidade pode ser transformada por um título? Quando a UNESCO designa um lugar como cidade criativa, inicia-se um processo que vai muito além de uma simples menção honrosa internacional. A política pública também se transforma, reforçando uma visão de longo prazo, algo raro na política municipal. Felizmente, Santos está conseguindo construir e reforçar essa cultura voltada ao cinema.
Desde 2015, quando Santos ganhou o selo da Unesco de Cidades Criativas na área de cinema, avançamos significativamente nessa questão. É fato que desde antes de 2015, alguns expoentes já vinham construindo essa história. Do Instituto Querô, que tenho a alegria de estar conectada desde 2006, quando as primeiras oficinas Querô tinham acabado de rolar, até produtoras audiovisuais locais e o próprio Charlie Brown Jr., o selo da Unesco consolidou muitas pontas que estavam soltas. Passamos a ter mais editais municipais ligados à cultura. Passamos a ler uma lei de incentivo fiscal direcionada à produtos culturais. São avanços inegáveis, que se aceleraram desde 2019, mas que foram acelerados pelo selo.
E ser uma cidade de cinema é uma grande estratégia local.
Com o cinema, podemos levar Santos para o mundo, mas também aprendermos mais sobre nós mesmos. A importância de contar as histórias locais não é apenas uma estratégia boa para a economia, mas para construção de uma identidade forte e de fortalecimento da democracia. Quando os cidadãos começam a ver sua própria cultura com novos olhos, eles aprendem sobre a cidade, se despolarizam, passam a entender melhor o outro.
O cinema tem um papel essencial nisso. Por isso, listamos aqui 5 obras audiovisuais que podem ajudar você a compreender realidades que Santos que talvez estejam distantes da sua – e ampliar suas visões sobre a nossa própria cidade.
Raízes do Mercado
Esse curta-metragem foi produzido por moradores da Vila Nova e Paquetá, durante oficinas audiovisuais do projeto Querô Comunidade 2021. Tem a direção de Daniel Calado Souza, Francina Ferreira de Lisboa, Jaime Santos e Samara Faustino. O documentário conta por meio de depoimentos dos moradores, um pouco da história dos bairros Vila Nova e Paquetá e a relação da região com as moradias em situação de cortiços, situadas próximas ao Mercado Municipal na região portuária de Santos.
Visões de Santos
A paisagem urbana de Santos passa por grandes transformações. Novos prédios surgem a todo instante, obras viárias modificam a rotina dos habitantes e antigos cenários dão lugar a novos empreendimentos. E como a cidade é percebida por quem a conheceu no passado? Através das lembranças de dois idosos que viram e viveram plenamente a Santos clássica, descubra como é possível enxergar a cidade contemporânea sob uma nova ótica. Dirigido em 2014, pelo diretor Kauê Nunes.
Sons de Conflito – O Funk Feminino da Baixada Santista
Com roteiro e direção de Raphaella Santucci, esse documentário de 2024 apresenta funkeiras de Santos que tomam o protagonismo para contar suas histórias de luta, conquistas e resistência. Com depoimentos de pioneiras e novas vozes da cena, a produção revela como elas desafiam um espaço ainda dominado por homens e fazem do funk uma ferramenta de identidade. Por mais que o funk da Baixada Santista seja conhecido, as mulheres que fazem essa cena acontecer são invisibilizadas. E este é um convite para refletir sobre desigualdade, arte e a força dessas mulheres.
Carregadores do Monte
O documentário, produzido em 2012 pelo Querô, mostra a vida no morro Monte Serrat e a difícil tarefa de homens que trabalham subindo, todos os dias, 402 degraus com objetos nas costas.
Dudu do Gonzaga
Uma personagem que marcou a cena LGBTQI+ nos anos 60 e 70, desfilando pelo Gonzaga com sua canga característica amarrada na cintura e de biquíni. Dudu morreu em 1982, e o caso nunca fora solucionado. Com direção de Nildo Ferreira e co-direção de Victor Alencar, esse documentário de 2021 conta a história que muitos baby boomers santistas conhecem, mas não que ainda não tinha sido documentada com os devidos recortes de preconceito e violência, não cobertos pela mídia daquele tempo.
O cinema vem há décadas construindo e reconstruindo o imaginário urbano, influenciando como percebemos e interagimos com a nossa cidade e suas pessoas. A intersecção desses fenômenos está redesenhando o mapa cultural global e redefinindo o desenvolvimento econômico local.
Cinema é bom para a nossa autoestima, para nossa economia e para o nosso futuro.