Texto porJuicy Santos
Santos

Roberto Carlos e a influência da soul music

As visitas constantes de Roberto Carlos em Santos, para  embarcar no cruzeiro temático Emoções em Alto Mar, trazem um sentimento de nostalgia para quem conferiu, ou pelo menos ouviu falar, da sua época áurea. Vamos relembrar uma fase entre o final da Jovem Guarda e o início da década de 70, apontado como o período mais fértil de sua carreira. E pasmem: com sinais de influência da música negra norte-americana. Sim, estou me referindo a tal soul music mesmo.

roberto carlos em santos

Quando lançou o disco O Inimitável Roberto Carlos, em 1968, ele já dava mostras de que algo estava se transformando em seu som. Se Você Pensa já tinha uma forte pegada soul no arranjo, assim como a clássica Ciúme de Você. Mas ainda era, basicamente, um trabalho calcado na Jovem Guarda.

Aí então veio aquele disco de 1969, com a clássica foto dele sentado na areia da praia (quem mora no litoral se identificou rapidamente com a imagem). E nele está a sua versão de Não Vou Ficar, de Tim Maia, que foi seu amigo na juventude. Nada Vai me Convencer é outra faixa que deixa claro a influência do balanço soul americano. Claro que o romantismo predomina, mas há momentos em que ele se arriscava ousando nos arranjos.

Santos é citada nesse disco, na clássica As Curvas da Estrada de Santos. Cuja inspiração vinha das viagens de carro até o litoral, pela estrada que cortava a Serra do Mar. E novamente o arranjo segue a linha da soul music (reparem bem o trabalho da orquestra, no setor de sopros).

Em 1970, Roberto Carlos lançou um de seus melhores trabalhos em disco, conceitualmente falando. Faixas com tons experimentais, como A 300 Km por hora e O Astronauta foram bem ousadas para aquela época. E o arranjo soul com cores gospel está evidente na canção Jesus Cristo.

No ano seguinte (1971), o Rei lançaria aquela canção que marcaria para sempre sua carreira: Detalhes, da sua eterna parceria com o amigo Erasmo Carlos (que contribuiu e muito nesse período).  O tom romântico do disco parece dar mostras do caminho que ele seguiria. Mas, nesse mesmo álbum, encontramos uma outra pérola musical: Todos Estão Surdos, com um riff de baixo e guitarra incrivelmente marcante e uma letra que mesclava mensagens antibélicas com o desejo de paz no mundo. Coincidentemente, John Lennon lançaria o seu hino pacifista, Imagine, naquele mesmo ano. De uma certa forma, os dois foram visionários.

É interessante observar que Roberto gravou nesse disco a canção Como Dois e Dois, de Caetano Veloso, que vivia um momento difícil, no exílio em Londres, motivado pelo governo militar da época. E ele ainda compôs para o compositor baiano a canção Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos. Não chegou a ser um ato de rebeldia contra o governo na época, mas foi uma prova de coragem do Rei.

A partir de 1972, o Roberto Carlos ligaria o piloto automático no rumo do romantismo, que dura até hoje. Isso não quer dizer que não haja momentos interessantes nesses discos que ele lançou a partir de 1972.  O fato que ele passou a se arriscar menos. Mas quem é Rei, não perde nunca a majestade.

By: Luiz Otero