Texto porJuicy Santos
Santos

Avril Lavigne e a pós-adolescência

É comum escutar dizer que quando um artista jovem chega a um determinado ponto de maturidade, acaba correndo o risco de tornar o seu trabalho chato e previsível. Talvez essa posição seja um tanto preconceituosa. Mas é fato que o encanto inicial e a espontaneidade acabam se perdendo em algum momento.

Um exemplo disso é a cantora canadense Avril Lavigne, que surgiu como um novo ídolo teen em 2000. Uma espécie de princesa do pop punk, denominação que causa inevitável hojeriza entre os fãs mais puristas do punk rock.

Passado esse encantamento inicial, Avril se sente hoje em dia como uma artista mais madura. Foi nesse clima que gravou o disco Goodbye Lullaby, cujas faixas bem comportadas destoam daquela imagem rebelde que ela transmitia no início.

É preciso considerar o fato de que Avril enfrentou problemas durante a produção do disco. A venda da gravadora e a solicitação dos novos diretores para deixar o disco com um som mais urbano, talvez tenham sido fatores complicadores para que Avril buscasse algo de novo em sua música.

A sonoridade pop da canadense está excessivamente bem comportada. Goodbye Lullaby tem canções pop leves, com temáticas que buscam identificar e traduzir com o momento que ela atravessa, ou seja, a pós-adolescência (também conhecida como pós-aborrecência).

O problema é que aquele toque rebelde e saudável da garota se perdeu mesmo. Avril acabou soando como uma espécie de clone de Alanis Morrissette, outra cantora que deixou seu encantamento para trás.

A canção What The Hell, escolhida como single de divulgação nas rádios, é apresentada em duas versões, sendo uma delas com arranjo acústico. Ambas são facilmente previsíveis pelo ouvinte, assim como a balada Wish You Were Here (não se trata da canção homônima do grupo progressivo Pink Floyd) e Everybody Hurts (também não é o hit da banda R.E.M.).

As releituras de Knockin On Heaven´s Door (de Bob Dylan) e Bad Reputation (da banda Thin Lizzy, com arranjo calcado na versão da cantora Joan Jett) pouco acrescentam ao disco. Parecem soar como uma banda cover de barzinho de segunda categoria, sem aquela espontaneidade natural.

O melhor momento do disco é Alice, canção que faz parte da trilha sonora do filme Alice no País das Maravilhas. Aqui, Avril ainda não consegue se livrar da comparação com Alanis Morrisette. Mas faz um pop mais próximo daquilo que produziu anteriormente.

Goodbye Lullaby pode até ser uma despedida da fase da adolescência da canadense. Mas bem que ela poderia continuar mantendo o espírito jovem, sem se preocupar em soar mais madura. O pop e o rock são feitos essencialmente de momentos de espontaneidade. Quando isso se perde, a magia dificilmente se repete.

Texto por Luiz Gomes Otero