Texto porLuiz Fernando Almeida

Respeite a travesti!

Coloque a palavra travesti no Google, procurando por imagens e tente encontrar uma foto que não seja de ridicularização, pornografia, fetichização e hiperssexualização das travestis.

Muitas travestis vêm conquistando espaço no mercado de trabalho, entre outros direitos. Mas a maioria absoluta ainda vive a segregação de forma absurda. Não possuem escolha que não seja a prostituição, pois ali é o único lugar em que têm trabalho garantido. Lembrando que se prostituir não é um problema, o problema é a falta de escolha.

O preconceito faz com que muitas abandonem os estudos. Mesmo não se identificando como travestis ainda, sofrem ao serem forçadas a utilizar a identidade masculina, ou por se “portarem de forma mais afeminada”, ou por começarem o processo de transformação durante os estudos. Eu mesmo conheço umas dez que pararam de estudar por não conseguirem conviver em sala de aula.

travesti em santos

Foto: badaloonline.blogspot.com.br

E esse preconceito vem de todos os lados inclusive, dos próprios gays, que fazem questão de diminuí-las. Mas dai você pode sair com a clássica: “Mas as travestis são agressivas e mal educadas!”.

Claro que também existem muitas travestis que são agressivas, briguentas e etc. Mas você já parou pra pensar que isso pode ser pura insegurança e que esta forma de agir possa ser simplesmente uma maneira delas se protegerem? Da próxima vez que você encontrar uma assim, tente ao invés de olhar torto, abrir um sorriso, pode funcionar.

Normalmente travestis também fazem cirurgias e tomam hormônios, para assemelharem seus corpos a imagem feminina. O acesso a tais procedimentos, assim como para transexuais, é complicado e enfrenta diversos preconceitos.

Fazer a cirurgia pelo SUS não e algo tão simples. E necessário ter mais de 21 anos, passar por um acompanhamento médico que dura em média 24 meses e esperar rezando muito para que a cirurgia seja autorizada. A cada 15 dias, o procedimento cirúrgico de mudança de sexo é realizado em um paciente do Sistema Único de Saúde (SUS). A chamada cirurgia de mudança de sexo foi um dos últimos atos cirúrgicos reconhecidos pelo governo brasileiro e entrou para a lista de procedimentos gratuitos só em 2008. De lá para cá, 73 cirurgias foram realizadas, sendo 10 no primeiro ano, 31 em 2009 e 32 até novembro de 2010. A estatística é crescente, mas ainda irrisória perto da fila de espera formada por pessoas que sentem ter nascido  no corpo errado.

Esse curta metragem intitulado BOMBADEIRA ilustra bem o que muitas travestis acabam fazendo pra modificar seus corpos quando não conseguem via SUS ou mesmo quando não aguentam mais se olhar no espelho num corpo masculino e ate para ganhar mais grana se prostituindo.

As condições de travestis e transexuais hoje são extremamente complicadas. Não há espaço para que tenham voz, para falarem de seus problemas, discutirem sua realidade.

Raramente pensamos em como é a vida de uma travesti, quais os dilemas, os problemas. Limitamos o lugar da travesti no mundo, limitamos sua existência a conceitos simplistas.

A atriz e diretora teatral Renata Carvalho estreou esse ano um espetáculo chamado “Dentro de Mim Mora Outra” onde conta sua história verdadeira e expõe corajosamente diversos aspectos de sua vida mostrando ao público quão difícil é viver dessa forma. Mas que apesar dos obstáculos, é possível ser feliz SIM!  O espetáculo deve entrar em cartaz novamente em 2013. Assim que eu souber as datas, informo aqui…

Alguma mudança têm acontecido muito vagarosamente pra tentar beneficiá-las, mas ainda precisamos voltar nossos olhos com mais atenção para suas necessidades.

Atualmente, travestis já têm o direito de usar o nome social em ações e atendimentos realizados pela administração pública. O nome social é aquele escolhido pelo próprio travesti ou transexual e que não corresponde à identificação inscrita em documentos como a certidão de nascimento e a carteira de identidade, por exemplo. A medida já existe em âmbito federal e cabe aos municípios a regulamentação da norma. O Senado brasileiro discute atualmente um projeto de lei que, se aprovado, também permitirá aos travestis e transexuais de todo o país o uso do nome social em documentos oficiais, como carteira de identidade, título eleitoral e passaporte.

Vale lembrar que a maior babaquice do mundo é julgar alguém por sua identidade de gênero. Isso não define caráter de ninguém e também não diminui nenhuma pessoa.

Em Santos, temos travestis bem sucedidas que trabalham como cabeleireiras, atriz, agentes de saúde, empresarias corretoras de imóveis entre outras atividades. Muitas delas, eu conheço pessoalmente e sei da batalha que travam com a sociedade para se impor e não precisarem viver a margem, nas ruas e tudo mais.

Este é um assunto que rende mais de um post então eu me comprometo a escrever outro mais completo e com mais informações para ajudar a combater o preconceito com as travestis.

A ideia aqui é apenas ajudar você a começar a olhar de outra forma para um ser humano que e igual a você, que sente as mesmas coisas, tem sonhos e não merece ser tratado de forma diferente pelo fato de ter nascido num corpo errado.

Como bem disse a militante travesti Janaína Dutra: Travesti é como se fosse uma ilha – rodeada de violência por todos os lados. 

PENSE NISSO!