Texto porLuiz Fernando Almeida

Para que tá feio!

Eu não acompanho a novela das 21h. A minha TV vive ligada, e às vezes paro o que estou fazendo e presto um pouco de atenção na trama. Ouvi muita gente falar dos personagens gays, e que achava o Téo Pereira, interpretado pelo Paulo Betti, engraçadíssimo. Fui conferir o desempenho do ator, um veterano escolado na TV, cinema e teatro. E posso dizer apenas uma coisa: para que tá feio!

Sabemos da capacidade do ator, que já interpretou personagens importantes em teatro, cinema e TV. Esse texto não é uma crítica especializada, nem tenho condições de escrever algo do gênero. Quero apenas que vocês reflitam um pouco comigo, a respeito dessa mania da teledramaturgia em estereotipar personagens gays.

teo1

Para sermos aceitos, temos sempre que ser divertidos, engraçados, bobos da corte?

Dentro de um país onde a homofobia se manifesta e encontra, lamentavelmente, eco em muitas camadas sociais, as artes em geral têm um importante papel social: transitar para além dos estereótipos e desmistificar personagens que, dentro da comunidade, estiveram por anos confinados em guetos com considerações marginalizadas. O imaginário gay carece de fontes e referências, não mais de estereótipos.

O que vemos nesta novela Império é um personagem retratado através da ótica do artista heterossexual, que não se aprofundou no universo gay. Nada contra o humor, e sei que temos gays dessa forma na vida real. Mas fica a impressão de que ele não se sente à vontade no papel.

Em mais de uma entrevista. o ator explicou que seu personagem era “um gay muito estereotipado, cheio de trejeitos” e chegou a prever que sofreria rejeição por causa do excesso de maneirismos. Pesquisando na internet, dá pra perceber que mesmo os heteros que assistem a esta novela estão incomodados com tantos exageros. Em entrevista, o autor da trama, Aguinaldo Silva, diz que está satisfeito com a atuação de Paulo no folhetim.

E absolutamente nada contra o fato de ver um hetero interpretando um gay. Mateus Solano, por exemplo, se tornou uma celebridade com seu Félix, “a bicha má”.

Na própria novela em que Betti participa, a drag Xana Summer (Ailton Graça) tem dado um verdadeiro show de sensibilidade,. Mesmo com uma interpretação fadada à caricatura pelo tipo físico do ator, você consegue perceber as camadas e nuances da personagem. Já em Téo Pereira, ficamos sempre aquela sensação de que o tiozão da padaria está contando uma “piada de gay” pros amigos.

Os personagens gays nas novelas ‘saíram da gaveta’ e vieram assumir seu lugar, com um farto leque de abordagens. Mas falta a compreensão de que a construção da ‘identidade gay’ ainda é muito rasa.  Ainda mais nesse momento em que a comunidade gay experimenta a visibilidade e se expõe em toda sua complexidade de relacionamentos, práticas e famílias.

Eu acho sensacional uma novela com tantos personagens gays, no horário mais cobiçado da TV aberta, isso é de extrema importância para que o público em geral, e não necessariamente apenas a ‘comunidade gay’, possa relacionar-se cotidianamente com todos os indivíduos, para que percamos o conceito de ‘minoria’.

Rapidinhas do universo LGBT

Domingo, das 13h as 20h, tem a terceira edição do Bazar Cafofo no Cassino Lounge ( Francisco Glicerio 405, Santos)

Ate o dia 17/10, voce confere a exposição “Arte Cidade” no MIS ( Museu da Imagem e do Som) com obras do artista plastico Kadu Verissimo e fotos dos alunos do curso de fotografia do Centro Europeu, coordenado pelo mestre Adilson Felix. A entrada e gratuita e o MIS fica no Centro de Cultura Patricia Galvao ( Teatro Municipal) na Pinheiro Machado 48, Vila Mathias, Santos.

Dia 23/10 tem mais uma ediçao da Magic Space na The Club Litoral