Texto porLuiz Fernando Almeida

Virou purpurina

Dizem que quando gay morre vira purpurina…

Ontem perdemos a bicha mais bicha de todas. A atriz Priscila Amaral nos deixou e foi pro céu soltar aquela gargalhada gostosa.

Impossível lembrar dela de outra forma: sempre sorrindo, sempre alto astral, sempre amorosa.

amaral

Priscila era uma das mulheres mais gays que conheci. Talvez por isso, tenha sido minha namorada na adolêscencia. Sim, eu peguei mulher na vida e não foram poucas.

Graças a ela, eu tive coragem de assumir minha sexualidade. Nos namorávamos e ela descobriu que eu estava saindo com um cara. Minha melhor amiga, a atriz Andrea Lopes, vulgo Dedeia, me CAGUETOU.  Priscila, que não era de levar desaforo pra casa e era extremamente apaixonada por mim, foi no meu prédio dar O MAIOR SKANDALL de todos os tempos.

Pronto, com meia dúzia de gritos, ela  tornou-se  minha grande benfeitora e me fez entender que não era vergonha alguma ser gay. Ficou braba , claro; afinal de contas, namorávamos. Mas foi generosa a ponto de me deixar viver. Aguentei muito xoxo da lindinha, anos e anos. Mágoa de cabocla, né? Mas eu amava até isso naquela mulher.

A Pri fez uma carreira linda no teatro, trabalhou em montagens importantes como A Maldição do Vale Negro, O Menino que Desejava Voar, Bodas de Sangue, Sacropodre, MacBeth, Geração Trianon e, recentemente, estrelava as novelas do Betinho Neto que rolavam durante o FESCETE.

Vê-la em cena era maravilhoso. Uns dizem que era difícil dividir a cena com ela, entrava no palco como quem entra numa arena cheia de leões, pronta pro combate,  não admitia “perder”.  Uma das melhores comediantes que conheci.O riso vinha frouxo ao seu lado, ela  era absurdamente  nonsense. Uma grande atriz, dessas que entram em cena e deixam todos hipnotizados. Ela surgia no palco com segurança, emprestando seu corpo, sua voz, sua alma, sua sensibilidade às suas personagens.

Sem dúvida alguma, a cena cultural da Baixada Santista perdeu um de seus personagens mais interessantes. Perdemos a amiga, a companheira de palcos, botecos , alegrias e tristezas, alguém com quem dividimos o sonho de viver de arte, de conseguir tocar pessoas e transformar vidas através do nosso ofício. Sempre sonhando com uma cidade, um país, um lugar melhor.

A Pri foi pra um lugar bem melhor que esse mundo escroto em que vivemos. Foi lá pra iluminar todos nós e inundar o céu de sorriso.

Vai em paz, Pri, e olha por nós!

um bjo

Luiz