Texto porLuiz Fernando Almeida

Os gays e o eterno medo da solidão

Envelhecer, do ponto de vista psicológico, é uma delícia. Você ganha mais experiência, fica mais esperto e o sexo fica melhor. Porem, os gays têm muito medo da solidão, principalmente na melhor idade.

Nós já sabemos que o meio gay masculino segue um padrão hegemônico de beleza: homem forte, jovem e másculo. Isso porque esse ideal é o que mais se aproxima do que se entende como homem heteronormativo. E como a maioria de nos foi criado com essa referência masculina, acaba carregando pra vida.

Daí você vai me dizer:

– Os gays deveriam praticar menos sexo casual e focar em relacionamentos.

gays e a solidão

Mas você já pensou que, muitas vezes, o sexo casual é a única saída pra um gay? Cada vez menos os gays querem manter relacionamentos sérios e duradouros. Cada vez mais, os heteros levam vida dupla.

Dessa forma, dançamos conforme a musica e estamos conectados em milhões de redes sociais atrás do cara perfeito para uma noite e ou para o resto da vida. Porém, mesmo rodeados de aparatos tecnológicos, podemos nos sentir solitários. Essa sensação só tende a aumentar com o passar dos anos.

A culpa não é do sexo casual. Desde muito novos, somos submetidos a um ideal de felicidade que envolve constituir uma família. Não importa pra onde você olhe, seja filme de romance, novelas e até mesmo em propaganda de margarina, vende-se a felicidade enlatada sob a forma de cônjuge e filhos.

“Felizes para sempre”, sempre no plural.

Sendo assim, é de se esperar que uma pessoa que somente viva relacionamentos de uma noite (ou que não faça sexo com ninguém) sinta-se longe desse ideal e, portanto, depressiva. Não é uma regra, mas é a maioria.

Não é o medo de ficar feio, até porque a gente sabe que tem muito homem de 50 aí detonando com os de 20. É o medo de não conseguir mais pegar quem quiser e ter menos chances de arranjar um marido para casar e ter filhos, uma vez que o padrão exige a juventude.

O fantasma da solidão assola mesmo na velhice.

A certeza de ser discriminado pela comunidade gay, e entre os idosos, muitas vezes sem apoio da família, o gay de melhor idade encara um ritual de passagem onde a solidão é uma ameaça concreta, que contrasta com a alegria da juventude. Se não tiver um companheiro e sentir essa falta, a experiência pode de fato ser ingrata. E o preconceito continua lá: gays idosos frequentam saunas e pagam por sexo, é o que tem pra hoje.

Como se precaver então da solidão na velhice? É preciso perceber que a ausência de um companheiro não quer dizer necessariamente ser solitário. Laços de amizade, saber curtir a vida sozinho e ter contatos sociais é algo que deve ser cultivado em todas as idades. Não precisa ser idoso para sentir-se só, mas entender que ser solitário não significa sofrimento.

Não dá pra vivermos com medo do futuro. Até porque como viveremos na melhor idade é responsabilidade nossa. Cabe a nós, deixarmos de viver de maneira efêmera e pensarmos no amanhã.