Texto porLuiz Fernando Almeida

Nunca se falou tanto sobre gênero no Brasil

Na ultima semana, bombou no Facebook, um post de uma mãe que tinha como objetivo contar à família e amigos sobre a transexualidade de seu filho Bernardo, batizado Letícia.

Norma Coeli contou como enfrentou o próprio preconceito para aceitar o filho.

O post, que trazia uma foto da carteira de identidade social de José Bernardo, viralizou nas redes sociais e teve surra de likes e compartilhamentos.

norma

Também teve o caso dos cuidadores de Mica, que optaram em batizar a criança com um nome neutro e focam numa criação em que a criança transita entre gêneros e sente-se livre para expressar-se como quiser.

Obviamente, esse caso em especial rendeu os comentários mais absurdos, reaças e nojentos da semana. A regra é clara: não leia comentários em matérias polêmicas, mas eu não resisto. Desculpa, Arnaldo!

E aí eu me peguei pensando: tem algo muito importante acontecendo no Brasil e não sei se todxs notaram.

Nunca, xamais, em tempo algum, se falou tanto sobre gênero neste país.

Falar em gênero ainda é um tabu que sofre muita distorção, mas já percebemos a importância de debater a temática pra desmistificar o que se transforma em fobias desta sociedade conservadora em que vivemos, com um pensamento religioso fundamentalista e que não respeita mulheres, lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros, intersexuais.

Toda a violência sofrida por essas minorias incompreendidas englobam machismo e as fobias já tão faladas (homo, lesbo, trans, etc).

Precisamos falar sobre gênero

Mas se você é um dos meus três leitores e ainda não entende direito esse papo de gênero, eu vou te explicar de forma bem prática.

www.juicysantos.com.br - gênero fluido

Gênero é como as pessoas querem se expressar: homem, mulher, ambos ou até nenhum dos dois.

O Facebook oferece 56 opções de gêneros para os usuários se identificarem.

Programas da TV aberta têm debatido o tema em horário nobre.

Na quinta-feira (20 de outubro), os meninos Thomas e Danilo do canal Cavalos Marinhos, nossos entrevistados do mês passado, participaram ao vivo do programa Encontro com Fátima Bernardes.

Marcelo Tas também estava lá, confidenciando as histórias que vivenciou durante a transição de seu filho. Sim, o Marcelo Tas tem um filho trans e fala abertamente sobre este assunto.

O jornalista afirmou que a mudança de gênero é uma realidade, embora tenha vergonha de viver num país campeão de assassinatos de pessoas transgêneras.

A gente precisa entender que é uma realidade, mas o que nos atrapalha muito é a ignorância [das pessoas], que o preconceito leva à violência. Eu tenho vergonha de viver em um país que é campeão mundial de assassinatos contra as pessoas transgêneras.”

Na quarta-feira (19 de outubro), o GNT estreou a sensacional e importantíssima serie Liberdade de Gênero. Cês viram? Se não viu, corre pra internet pra assistir.

Num tom documental, a série trata sobre orientação sexual e gêneros distintos. O programa tem como objetivo, tornar familiar o que ainda e estranho para a família tradicional brasileira.

Dentre os entrevistados o cantor Liniker, que se apresenta no SESC Santos no próximo dia 05/11 e ficou conhecido por transitar entre gêneros e quebrar os paradigmas da binaridade usando saias, batom, delineador e barba.

www.juicysantos.com.br - generos fluidos

Eu não vou começar a falar da Liniker porque sou fã e daí não vou conseguir parar. Tive a oportunidade de abrir um show dele este ano, durante a  SIM- Semana da Diversidade Sexual de Araçatuba e fiquei ainda mais encantado com o trabalho e toda sua militância. Fora que ela é uma simpatia.

É muito legal perceber essas pequenas evoluções enquanto os religiosos se articulam de todas as formas pra negar direitos e reconhecer diferenças nestes país. Me emociono ao perceber que uma parte da sociedade está se abrindo e tentando compreender melhor estas questões, percebendo que a normatização desses assuntos é importante para acabar com tanto preconceito e violência no país que mais mata pessoas trans no mundo.

É maravilhoso ver essa moçadinha dando à cara a tapa nas grandes mídias e tendo consciência de que a representatividade importa.

Acredito que, aos poucos, estamos caminhando para uma sociedade mais justa e menos hipócrita.

Falta muito? Falta muito. Vai ter muito coió ainda? Vai sim, mas a semente está plantada, o debate está aberto e cabe a todos nós, independentemente de gênero ou sexualidade, colaborarmos de alguma maneira.

Todxs têm direito de ser feliz da maneira que escolheram.