Texto porLuiz Fernando Almeida

A homofobia segue firme na Baixada Santista

Eu sempre escrevo aqui que Santos é a cidade da beesha enrustida. Nossa cultura regional é homofóbica, a “sociedade santista” de uma maneira geral ainda não aceita bem os gays. Prova disso é a quantidade de gente que leva vida dupla nessa cidade.

Ontem à noite eu estava trabalhando, com a TV ligada no Jornal da Tribuna, quando me deparo com uma denuncia grave de homofobia em ambiente de trabalho. Eu tentei entrar em contato com o denunciante mas não consegui a tempo de fechar a coluna.

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 Foto:  Fernanda Luz

O caso é o seguinte: O estivador Donizete Machado Júnior, de 39 anos, conhecido por Maguila foi demitido sem justa causa pela empresa portuária Santos Brasil após supostamente descobrirem sua opção sexual, disse ele, na sede do Sindicato dos Estivadores de Santos (Sindestiva), que esta bastante deprimido pelo assédio moral e a intolerância os quais teria sido submetido. “Falaram que eu poderia contaminar os demais funcionários e que a empresa não quer gente de minha laia”, disse Maguila, ao lado do companheiro e professor de dança Maycon Lopes Simões com quem mantem união estável a cerca de 15 anos.

A empresa o desligou do quadro de funcionários após ele indicar o companheiro como dependente de seus benefícios. Vale lembrar que Maguila, trabalhava como avulso há cerca de 20 anos e só conseguiu ser registrado a cerca de 30 dias atrás. Donizete explica que foi retirado do navio, escoltado para o Departamento de Recursos Humanos (RH) da Santos Brasil, submetido a uma série de situações discriminatórias.

Em nota oficial, a Santos Brasil confirma o desligamento do portuário Donizeti Aparecido Machado e refuta a acusação de que tal ato esteja ligado à opção sexual do ex-funcionário. A empresa repudia qualquer acusação de homofobia e informa que possui em seu quadro funcional profissionais com relacionamentos homo afetivos, cujos companheiros estão devidamente inclusos como dependentes em plano de saúde e outros benefícios sociais.

A companhia salienta que sempre teve seus negócios pautados por uma conduta ética inspirada em valores como transparência, valorização do indivíduo e respeito à diversidade. Desde 2012, conta com um Código de Conduta, que determina o respeito e cordialidade nas relações profissionais e proíbe quaisquer manifestações discriminatórias em suas dependências. POREM A EMPRESA NÃO JUSTIFICOU A CAUSA DA DEMISSÃO.

Há cerca de dois anos atrás, um aluno do Drag Queen Curso aqui de Santos, virou noticia nacional denunciando um caso semelhante. Após aparecer, em uma reportagem do “Fantástico”, da TV Globo, sobre um curso de aprendizado para drag queens, o professor de logística Aílton Cardoso foi demitido.

Ele contou à reportagem que na segunda-feira após o programa nem chegou ao trabalho e foi dispensado pelo chefe. “Ele falou abertamente: ‘você está demitido’”

O caso teve repercussão nacional, mas eu não soube do desfecho dessa historia nunca mais. Alguém sabe?  Ainda tive que ler aquele babaca do Geraldo Azevedo da Veja esculhambando o  denunciante e dizendo que tudo não passava de uma farsa. Francamente!

A Dra. Rosângela Novaes, nossa querida defensora das causas LGBTT na região, se posicionou no facebook: “É um absurdo, mas ainda acontece muito. É claro que o caso vai ser apurado na justiça do trabalho. Mas dá para ir mais além, através da Lei Estadual 10.948/2001, que pune, no âmbito administrativo, as condutas discriminatórias em razão de orientação sexual e identidade de gênero. Empresas como o Carrefour e Metrô, entre outras, já foram punidas por esta lei e hoje são parceiras na luta contra a homofobia. As penas variam de advertência até a cassação da licença. Infelizmente, é um problema cultural, como é o machismo, o racismo, precisa ser combatido”.

Quem é gay e vive aqui na Baixada Santista já esta acostumado a lidar com o preconceito, muitas vezes velado, e muitas vezes vindo de pessoas que tem vida dupla, uma condição financeira melhor, um cargo de destaque e por ai vai…

Na década de 90, eu tive que correr muito na rua pra não apanhar. Já era assumido e como sempre me vesti de maneira diferente, corria de medo dos “coiós”.  O engraçado é que os mesmos caras que adoravam correr atrás das gays, eram os mesmos que nos procuravam eu busca de uma aventura sigilosa.

HOMOFOBIA SANTOS BRASIL CRED LUIZ TORRES DL (6)

Em 2014, ainda ouço risadinhas e sou apontado na rua. Sofro preconceito dos gays por dar vida a personagens femininos no teatro,  sofro preconceito da minha família e também já deixei de pegar trabalho em publicidade porque sabiam da minha orientação sexual.  Pasmem, isso é a mais pura verdade. Prova disso é a quantidade de galãs na TV que não se assumem para não perder contratos  publicitários.

Na classe artística, o preconceito também esta presente, na maioria das vezes, de forma velada. Eu, por exemplo soube ano passado que meu espetáculo “ Dama da Noite” não entrou na grade de um Festival por preconceito e também sei que não foi só nesse evento que isso aconteceu. Mas a vida segue e eu não desisto fácil dos meus objetivos. Então, já fica o recado: Aceitem, vocês vão ter que me engolir!

Quantas vezes eu ouvi caras com quem já sai dizendo que não se assumem porque sofreriam retaliação no trabalho, já perdi até as contas…  Jogadores de futebol são sempre apontados como gays. Esta semana, o lutador Anderson Silva declarou que no MMA existem diversos gays não assumidos (quase morri com essa informação e me matriculei numa academia, confesso). Essas pessoas não se assumem porque vivemos numa sociedade machista onde os héteros não aceitam os gays no ambiente de trabalho com medo de que eles sirvam de espelho para seus fantasmas mais assustadores. Só consigo acreditar nisso.

É chato ter que bater na mesma tecla sempre. Detesto ser repetitivo, mas até quando teremos que conviver com tamanha intolerância?

Claro, nem todo mundo é assim né? Na região, temos empresas que tratam gays com igualdade como a TIVIT. Eu estive lá ano passado, realizando umas ações promocionais como ator e pude constatar a enorme quantidade de gays no quadro de funcionários. Todos tratados com dignidade e respeito e convivendo em harmonia no ambiente de trabalho. Um verdadeiro exemplo que deveria ser seguido por todos porque sabemos que orientação sexual não define caráter e nem a capacidade profissional de alguém. Prova disso é a quantidade de gays mais bem sucedidos profissionalmente do que héteros.

Torço para que este caso tenha um desfecho favorável ao Donizetti e que as empresas da região e a população em geral tomem consciência de que acima de tudo, somos cidadãos e temos direitos e deveres iguais a todos.

Dependendo do resultado do processo, a empresa pode ser obrigada a pagar um valor de 100 a 300 salários do funcionário como indenização a título de dano moral. Juridicamente ele sofreu um dano moral, e esse dano moral é que vamos buscar o ressarcimento. Com relação ao preconceito, o crime em si, a gente vai pedir dentro da ação a expedição de ofício para o Ministério Público do Trabalho, para o Ministério Público Estadual e Federal para que se apure a prática do delito que a gente entende que também ocorreu

Cuidem mais das suas vidas e deixem-nos viver em paz, por favor!