Texto porFlávia Saad
Santos (SP)

Lucas Fonseca, um santista na missão Rosetta

Neste mês de novembro, o nome Rosetta tomou conta dos noticiários.

Não, não estamos falando da pedra que ajudou a traduzir os hieroglifos egípcios, e sim da missão espacial européia que, no dia 12, pousou o robô Philae em um cometa pela primeira vez na história da humanidade.

E, como não poderia deixar de ser, tinha santista metido nessa história.

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Lucas Fonseca nasceu na cidade, estudou na USP e resolveu, em 2009, correr atrás do sonho de infância de trabalhar com engenharia espacial. Depois de uma especialização em Toulouse (França), juntou-se à equipe do Centro Espacial Alemão (DLR), como contou em depoimento à revista Época.

Ele deu entrevista para o Juicy Santos contando seu ponto de vista desse grande dia.

Qual é a sua percepção, como engenheiro e como ser humano, de ter participado de um projeto tão importante para a ciência?

Como engenheiro, acredito que seja um motivador muito grande para continuar minha carreira. Tenho diversos sonhos ainda a realizar nessa área, principalmente no Brasil, e o projeto me faz acreditar que é possível. Como ser humano, me sinto parte de um passo muito grande da exploração espacial. Além dos resultados que serão entregues pelos instrumentos da missão, novos desafios serão contemplados para novas missões, utilizando eternamente essa conquista como exemplo.

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Quais são as qualidades que você acha que um profissional deve ter para trabalhar com ciências espaciais?

Trabalhar com ciências espaciais demanda um conhecimento aprofundado no assunto, o que requere alguns anos de estudos. Diversas cadeiras podem trabalhar com espaço: como direito, biologia, e no meu caso engenharia. Acho que o principal motivador seja a paixão pelo assunto, quase todos os meus colegas já traziam esse tema de infância. Acredito que a maior qualidade demandada seja de fato a persistência de seguir seus sonhos.

Leia mais sobre a missão Rosetta na Wikipedia

Você acha que há campo para sua área de trabalho aqui no Brasil? O que você prevê nesse futuro próximo para o país em relação à ciência e à pesquisa espacial?

O Brasil tem longa data de atividades espaciais através de seus principais institutos, como o INPE. O campo existe, mas é muito voltado para iniciativas do governo. Nosso maior desafio é transformar a iniciativa privada como um importante “player” de mercado também, trazendo os desejos e modelos de negócio próprio que criem a oportunidade dos empresários se manterem sem a necessidade de ‘orbitar’ sempre em torno da boa vontade do governo. Essa desafio é muito maior que colocar uma sonda em um cometa, mas estou disposto em participar dessa luta. Sou um pouco cético em relação à nossa ciência desenvolvida no Brasil, mas acredito que melhorando a educação, mais pessoas ficariam motivadas em desenvolver trabalhos importantes por aqui. Essa luta pela ciência deve ser exercida tanto pelo governo, quanto pelos que acreditam no sua importância.

Onde você está morando agora e quais são seus próximos projetos?

Atualmente moro em São Paulo, mas minha vida nunca dura muito em um mesmo lugar. Se olhar meus últimos 10 anos,morei em 4 lugares diferentes. Não sei até quando ficarei por aqui.

Atualmente sou empreendedor, tenho desde uma loja de cervejas até uma fábrica de materiais metálicos. Na área espacial, desenvolvo um projeto com universidades e institutos que pretende lançar uma pequena sonda para explorar efeitos prolongados da radiação espacial em colônia de bactérias. Nosso principal objetivo é posicionar um experimento numa órbita lunar, um longo trabalho pela frente.

Quando você estava crescendo aqui em Santos, quais eram seus hobbies? O que gostava de fazer?

Sempre me envolvi muito com esportes. Nadei pelo Santa Cecília por boa parte da minha vida, joguei basquete pelo Saldanha, treinei algumas artes marciais e fui escoteiro quase que a vida inteira, pelo 55º grupo escoteiro Morvan Dias Figueiredo. Fora isso, sempre gostei muito de música e desde pequeno toco alguns instrumentos, hobby que trago até hoje. Fora isso, como boa parte dos santistas, frequentei muito a praia, sempre ali na frente do posto 4.

Do que você tem saudades daqui de Santos?

Sou muito saudosista com Santos, tenho um carinho muito especial pela cidade que cresci. Além dos amigos e família, sinto saudade do clima da cidade, de ter o mar sempre por perto. Gostaria muito de voltar para Santos um dia. Atualmente visito Santos com certa frequência, já que meus pais moram por aí.