Texto porJuicy Santos
Santos

Ser atleta no Brasil é uma verdadeira ginástica

Do lado de fora da Arena Santos, caía uma chuva forte. Do lado de dentro, outra, menor, fruto de goteiras inconvenientes.

Pois é, vida de esportista é dar nó em pingo d’água….

Cheguei ao ginásio na última sexta-feira (17 de agosto) para acompanhar a preparação dos ginastas que disputariam o Campeonato Brasileiro naquele fim de semana.

Eles não desistem.

www.juicysantos.com.br - ginástica esporte no brasil Fotos: Osvaldo F/ Contrapé Informação e Comunicação

São resilientes, como se diz atualmente. Repetem cada movimento à exaustão, na busca de uma melhor nota. Uma melhor classificação. Ou não cair da trave ou da barra.

No caso deles, o começo é muito jovem. Quase crianças, as meninas treinam com firmeza de adultos. Corpos miúdos, mas cheios de sonhos. Dos mais diversos clubes espalhados pelo Brasil. Querem um lugar ao sol. E miram nos espelhos como Jade Barbosa e Danielle Hypólito.

“É tranquilizador saber que tem uma nova geração chegando. Pior seria o contrário. Então, essa sucessão é algo meio natural”, comenta Jade.

Do lado masculino, os espelhos estão dentro e fora de quadra. Dentro dela, todos querem ser Arthur Zanetti, único campeão olímpico da nossa ginástica. Rei das argolas, o próprio Zanetti quer ser mais. Empenha-se no solo, no salto. Em nome do time, mas de si também.

www.juicysantos.com.br - ginástica no brasil

E brilha o sol para os ginastas

No domingo (19 de agosto), dia das finais do Brasileiro Especialistas, a atmosfera era outra. Sol do lado de fora, brilho dentro da Arena Santos. O público atendeu ao chamado e foi ver seus ídolos. Até quem não competiu.

Na arquibancada, estava Diego Hypolito, prata no solo no Rio/2016. Não competiu, por conta de uma virose recém-curada. Foi para torcer pela irmã e pelos companheiros. Mas dele sai a lúcida explicação sobre o momento atual do esporte.

“É algo preocupante (a falta de apoio) ao longo do tempo. Eu não vejo algo que tenha uma manutenção. Até existe uma lei, mas não é muito clara. O Brasil é tão grande, e é o esporte que tira as crianças da rua. É legal ver que crianças queiram ser como nós, mas para isso é preciso um plano não só do governo federal, mas estadual e municipal também”, avalia o atleta olímpico.

Atualmente, apenas a Caixa Econômica Federal apoia a ginástica brasileira.

Passado o boom da Olimpíada do Rio, o investimento, quer estatal, quer das empresas privadas, caiu drasticamente. A crise pegou de jeito e, a dois anos da Olimpíada de Tóquio, o “oportunismo” ainda não pegou carona.

www.juicysantos.com.br - campeonato brasileiro de ginástica em santos sp

Cai e levanta

Ser atleta no Brasil, em qualquer modalidade, é mesmo uma ginástica sem fim.

Há pouco mais de dois meses, o esporte levou um baque chamado Medida Provisória 841.

A MP previa a retirada de parte do dinheiro da loteria federal destinado ao esporte para o Fundo Nacional de Segurança Pública. A medida foi assinada pelo presidente Michel Temer, mas após muita pressão de atletas, clubes, federações, confederações e organizações não governamentais, o político voltou atrás na decisão.

Fato é que, se dentro das quadras, campos, tatames e pistas, os atletas brasileiros continuam se esforçando ao máximo, a retaguarda já não existe mais, ou é bem frágil.

Esqueça o projeto de potência olímpica ou projeção de medalhas do Comitê Olímpico do Brasil para 2020.

O esporte não merece apenas saltar os problemas para sobreviver – ou escapar das goteiras.