Texto porJuicy Santos
Santos

Será que os 30 são os novos 20?

Tá bom. Vou abrir o coração.

Em menos de duas semanas completo 31 anos e não estou sabendo lidar com isso.

Sim, sou jovem, feminista, segura (quase sempre), otimista, trabalho com o que gosto, mas essa imagem social de que uma mulher na casa dos 30 já deveria estar casada e com filhos começou a pesar.

Fazer 30 anos foi fácil. Depois de alguns anos difíceis, estava finalmente entendendo pra onde minha vida caminhava, aceitando minhas mudanças profissionais, satisfeita com meu corpo e minha solteirice. E também ocupando bastante a cabeça com a organização da festa de aniversário dos meus sonhos. Então, talvez a crise dos trinta tenha passado batida.

Mas esse ano não deu. Está difícil ao ponto de nem querer comemorar meu aniversário! Logo eu que fico triste quando alguém esquece dele.

Acontece que, desta vez, parei pra olhar pra minha vida e, naquele mau hábito dos ansiosos, ao invés de enxergar tudo que já conquistei, só vejo tudo que ainda me falta.

Como pode uma mulher de 31 anos ainda estar solteira e sem namorado, sem filhos, morando com os pais, sem um corpo fitness com bunda na nuca e sem vários carimbos no passaporte (que está vencido, aliás)? Já não era tempo de conquistar isso tudo? O check list não deveria estar completo? O que eu tô fazendo de errado?

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Aí, olho nas redes sociais dos amigos (outro mau hábito) e dou de cara com as fotos dos colegas de escola e faculdade felizes com seus filhos já entrando na escola! As declarações de amor entre os casais juntos há anos. Os pedidos de casamento super românticos. Os ex-namorados ficando noivos. As viagens lindas para a Grécia, Paris, Itália. Isso quando não junta tudo e o pedido de casamento é feito durante a viagem na frente da Torre Eiffel! Pô, ajuda aí, migos!

Ok, eu sei…  Ali a vida de todo mundo é perfeita. A internet aceita qualquer coisa. As declarações podem ser hipócritas e as viagens geram dívidas no cartão de crédito. Mas, ainda assim, dói!

Dói porque o mundo me disse desde a infância que aos 30 anos eu já deveria estar no topo, ou bem perto dele. Não é assim que nos ensinam?

É a vida adulta!

Você já teve tempo pra estudar, arrumar um bom emprego e conhecer o amor. E então, começa: Ainda não tem filhos?

“Ooolha, se esperar muito não vai conseguir engravidar”.

Solteira?

“Puxa, mas já namorou tanto. Qual o problema com ela?”.

Mora com os pais?

“Nossa, mas não vai cuidar da própria vida?”.

É tanto dedo apontado com pontos de interrogação que chego até a duvidar de toda confiança que sempre tive. Os questionamentos do mundo entram tão forte que passam as ser os meus. Qual será mesmo meu problema? Em qual ponto desses 30 anos eu peguei o caminho errado?

A realidade mesmo é que eu (e de muitas de nós) quero colocar a vida dos outros dentro da minha.

Analisar só o que os outros mostram e não o que eles vivem. É julgar o palco e não o camarim. É me colocar num molde de vida de décadas passadas que não faz mais sentido hoje.

Os 30 são os novos 20, dizem.

A grande descoberta aqui é entender que se eu não estou hoje onde supostamente deveria estar é porque escolhi não fazer as escolhas que supostamente deveria fazer. Saí da casa dos pais e mudei de cidade aos 22 tendo que recomeçar um ciclo de amizades e relações, larguei os trabalhos “ideais” pra ser autônoma com meus textos e meus idiomas, não aceitei relações onde eu era menos do que o outro e não podia ser eu mesma, escolhi viajar sozinha e me auto descobrir. Ou seja, eu fiz o que eu quis, não o que os outros achavam ideal. E é só isso o que deveria importar aqui, não é?

Ah então beleza! Entendi.

Agora estou super tranquila e 100% segura em fazer 31? Não…

Seria bom se fosse tão simples. Isso ainda precisa ser digerido lentamente. Ainda vai precisar de muita autoafirmação na frente do espelho. Muito fortalecimento da autoestima. Ainda vai depender de muita paciência e trabalho pra alcançar o que “falta”. E de muitas amigas em volta pra dar risada e chorar com essas crises de todas e me fazer lembrar do que realmente vale a pena. E vai ter festa sim, porque não vim pra essa vida pra me esconder.

Se você por aí, miga, tá passando por essa fase também, te digo: comemora, sim, seus 30, 31, 40, 50!

Comemora quem você é, o que você conquistou até aqui, os amores que você viveu, os amigos que estão por aí e ganha fôlego pra receber muito mais! A experiência é o que vale mais.

No fim do dia, cada um sabe o que aperta o peito quando bota a cabeça no travesseiro. E sempre vai faltar alguma coisa, seja casada ou solteira, com filhos ou sem, na casa própria ou dos pais.

As pressões sociais, infelizmente, não vão mudar tão cedo. O que faz toda diferença é a forma como a gente lida com tudo isso. E pelo menos uma coisa boa que só o passar da idade nos traz é essa maturidade.