Texto porSuzane G. Frutuoso

Por que a gente precisa se preparar para quando a idade chegar

Denise é uma das minhas maiores referências. Amiga da época de faculdade da minha mãe, me viu nascer e hoje é também minha amiga. Como sempre digo, uma espécie de fada e mentora da vida.

Há alguns anos, a De enfrentou um câncer de mama. Recuperada, é ativa e animada voluntária do Instituto Neo Mama, com sede no bairro da Aparecida, em Santos.

Vale dizer que o Neo Mama é uma das instituições pioneiras no país no atendimento multidisciplinar e de apoio a mulheres com a neoplasia mamária.

Todas as manhãs, De e eu trocamos umas figurinhas de bom dia para lembrar que estamos fisicamente distantes, mas sempre perto do coração. A gente também troca áudios para atualizarmos as novidades. Quando comecei a fazer pilates, há uns dois meses, para ajudar na recuperação de um problema grave de coluna que tive neste primeiro semestre, a De me disse:

“Você faz muito bem em se preocupar agora. Quanto mais cedo, melhor. Por aqui, estou tomando providências para me preparar para a velhice.”

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Além de canoa havaiana, alongamento, danças circulares (e mais algumas coisas que ela faz que eu não lembro rsrs e quase tudo no Neo Mama!), a De é uma viajante saudavelmente viciada. Também adora conviver e socializar com família e amigos. Isso já é maravilhoso para avançar bem na idade. Começou há pouco exercícios funcionais com um fisioterapeuta “porque idade afeta a disposição, não tem jeito”.

40 e contando

Esse ano, cheguei aos 40 anos e consigo perceber, entender, o que ela quer dizer. Não só as limitações físicas, por mais discretas que sejam, aparecem. Mesmo para uma pessoa como eu, que sempre pratiquei dança/esporte desde menina.

Mas porque ao pensar nestes primeiros 40 anos de vida, que foram fantásticos, tudo parece muito recente.

Lembro com vivacidade das minhas formaturas, dos meus relacionamentos felizes, de quando passei no vestibular, de segurar meu sobrinho (já com 14 anos) no colo assim que ele nasceu, de quando morei fora sozinha. E tantos outros momentos incríveis que me fizeram completar quatro décadas certa de que valeu a pena. Espero ter pelo menos mais quarentinha daqui em diante.

Só que significa que mais uns 40 anos de vida (quem sabe até com um bônus de mais dez que permitirão chegar aos 90) não demoram a passar. Quanto repetimos “nossa, já estamos no meio do ano”, “nossa, já é quase Natal de novo”? E as limitações físicas (talvez até mentais) também não demoram a chegar e aumentar. Então, se você ainda não os tem, crie hábitos mais saudáveis.

Quando a idade chegar, onde você vai estar?

Do ponto de vista emocional, os próximos 40 anos trarão perdas inevitáveis. Claro que são perdas possíveis de acontecerem a qualquer momento da nossa trajetória. Mas que na ordem natural da vida, e eu tenho a sorte de que assim seja, começamos a perder pessoas que amamos.

Eu sei que nos próximos 40 anos enfrentarei a perda dos meus pais e das minhas tias. Sendo meu irmão e minha cunhada alguns anos mais velhos do que eu, também podem partir antes (espero que bem velhinhos comigo porque são meus companheiros de jornada). Assim como os amigos escolhidos para serem também família. Volta e meia, olho nos olhos da minha viralatinha Charlotte e peço “por favor, viva muito”.

Essas dores serão avassaladoras. E acontecerão tão logo quanto os meus 80 anos batendo na porta. Resolvi, portanto, que não vale perder tempo colocando energia em situações que não são tão importantes como a gente faz parecer. Ou fez parecer na primeira fase da vida.

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Problema é doença. Tristeza é morte. Para todo o resto, dá-se um jeito. Não é viver com irresponsabilidade. É viver dimensionando e compreendendo melhor para o que, afinal, estamos todos por aqui.

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Suzane é santista e cofundadora da plataforma Mulheres Ágeis e da consultoria ComunicaMAG. É jornalista, mestre em sociologia, professora e escritora. É autora do livro “Tem Dia Que Dói – mas não precisa doer todo dia e nem o dia todo”. Mãe orgulhosa da vira-latinha Charlotte.