Texto porSuzane G. Frutuoso

Por que deixamos de fazer coisas que adoramos

Fiz balé durante treze anos. Principalmente o clássico, mas experimentei também o contemporâneo e o jazz.

Sempre adorei dançar. Era das minhas brincadeiras favoritas quando criança.

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Por volta dos 12 anos, comecei a implorar a minha mãe que me deixasse ir à matinê da Lofty. A mãe dizia que não, que era cedo. Ela cedeu quando eu estava com quase 14.

Aí, virou ritual: todas as tardes de domingo, meu pai levava a mim e mais duas ou três amigas até a porta da “danceteria”. E a gente dançava… Deus, como a gente dançava. Cerca de quatro horas sem parar…

Chegando em casa, a roupa ensopada de suor ficava direto no tanque. A alma já vinha lavada.

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Até os 30 anos, eu saía muito para dançar. Em algum momento, com responsabilidades acumulando, a dança se tornou algo que eu vez por outra assistia ou arriscava uns passinhos em casa durante a faxina com Madonna no último volume.

Mas enquanto escrevo a vocês estou aqui tentando lembrar como exatamente deixei de lado o que pra mim era tão essencial.

Mas por que deixamos de fazer o que gostamos?

E por que, afinal, vamos colocando em uma caixinha de lembranças distantes coisas que nos faziam tão felizes?

Claro, a vida muda. Por exemplo, passei a acordar mais cedo (hoje em dia, às 6 horas) e quase toda balada começa pra lá das 23h – quando eu já tô dormindo…

Aliás, tenho pensado muito se não é boa ideia de negócio uma balada vespertina com música dos anos 70, 80, 90.

Já perguntei para vários amigos e adoraram a ideia. Quem sabe…

Existe a dança de salão e o forró, que costumam ter horários alternativos, inclusive nas tardes dos finais de semana. Até onde será que eu vou levar minha desculpa de “não tenho como voltar a dançar”?

Quantas desculpas a gente vai se dando ao longo da vida ao invés de sermos logo mais felizes, mais livres? Quantas são as desculpas para não abandonar maus hábitos ou situações que nos tiram energia? Quanto tempo ainda vamos perder?

Não dá pra perder, não.

Há duas semanas, fui em uma despedida de solteira em um clube de música latina, em São Paulo. Dançar salsa com as amigas, em um momento tão especial para uma delas. E perceber como aquelas poucas horas de rodopios me fizeram emocionalmente bem abriu a caixinha das lembranças felizes.

E veio com o aviso: a gente não precisa só recomeçar; a gente precisa também resgatar.

Suzane é santista e cofundadora da plataforma Mulheres Ágeis e da consultoria ComunicaMAG. É jornalista, mestre em sociologia e escritora. É autora no blog Fale Ao Mundo e lançou o livro “Tem Dia Que Dói – mas não precisa doer todo dia e nem o dia todo”. Mãe orgulhosa da viralatinha Charlotte.