Seu candidato está fazendo uma campanha limpa nestas eleições?
A cada ciclo eleitoral, ruas, calçadas e praças das nossas cidades se tornam uma extensão das campanhas políticas, cobertas por panfletos, santinhos, cartazes e outros materiais de divulgação. E gente pergunta: seu candidato planejou uma campanha limpa?
Embora esses itens tenham como objetivo aproximar os candidatos dos eleitores, o impacto ambiental dessa prática é alarmante. O chamado “lixo eleitoral” não só prejudica a estética urbana, mas também contribui significativamente para a poluição ambiental, gerando toneladas de resíduos que frequentemente acabam em aterros ou são dispersos pela natureza, entupindo bueiros e rios.
Esse é um cenário particularmente visível em cidades como Cubatão, na Baixada Santista, que historicamente lida com desafios ambientais devido ao seu parque industrial. A sobrecarga de resíduos eleitorais agrava a situação, exigindo atenção redobrada para práticas que possam minimizar o impacto no meio ambiente durante os processos eleitorais.
Materiais que vão para o lixo
A legislação eleitoral brasileira até busca regulamentar a distribuição de material de campanha, mas as práticas tradicionais de impressão em massa de santinhos, banners e outros impressos ainda são largamente utilizadas, sem a devida preocupação com seu destino final. Para piorar, muitos desses materiais são feitos de plásticos ou papéis que não possuem biodegradabilidade, permanecendo no ambiente por anos.
Será que isso faz diferença para o eleitor mesmo?
Diante desse cenário preocupante, começa a surgir uma nova mentalidade entre alguns candidatos. Iniciativas que buscam reduzir a pegada ecológica das campanhas eleitorais mostram que é possível realizar uma campanha eficiente sem sacrificar a sustentabilidade.
Campanha limpa é campanha sem lixo
Um exemplo disso vem de Cubatão, onde um jovem candidato a vereador está implementando uma série de práticas inovadoras para reduzir o impacto ambiental de sua campanha. Ao invés de distribuir os tradicionais santinhos de papel ou plástico, ele optou por carimbos e materiais biodegradáveis. Os santinhos que ele distribui são feitos de papel-semente, que podem ser plantados, germinando em folhas de manjericão ou girassóis. Além de evitar que os materiais acabem como lixo, essa solução transforma o que seria descartado em algo vivo, promovendo a consciência ambiental de maneira tangível.
Essa iniciativa não se restringe apenas ao material utilizado. Ele também organiza mutirões pós-eleição, nos quais ele e seus apoiadores se dedicam a recolher os resíduos eleitorais espalhados pela cidade.
O lixo recolhido é, então, levado para reciclagem, reforçando o ciclo de sustentabilidade. Em vez de deixar um legado de poluição, a campanha se torna um exemplo de responsabilidade ambiental, alinhada com os desafios globais da gestão de resíduos e da preservação do meio ambiente.
Embora a iniciativa seja louvável, ela deveria ser o padrão, não a exceção.
Cada eleição é uma oportunidade para candidatos e eleitores repensarem o modo como os materiais de campanha são produzidos, distribuídos e descartados. As cidades têm capacidade limitada de gerenciar o lixo gerado, e o período eleitoral impõe uma pressão extra sobre os serviços de limpeza urbana.
E o que eu tenho a ver com isso?
Os eleitores, por sua vez, também desempenham um papel essencial nesse processo. Eles podem cobrar de seus candidatos atitudes responsáveis, exigindo uma campanha limpa que se preocupe não apenas com votos e com o meio ambiente. Em tempos de crescente conscientização ambiental, é fundamental que as eleições reflitam essas mudanças de mentalidade, promovendo campanhas limpas – em todos os sentidos.
Além disso, o papel dos governos locais e regionais é crucial. As cidades podem e devem regulamentar o uso de materiais de campanha, incentivando o uso de itens biodegradáveis ou recicláveis e criando mecanismos para que os resíduos eleitorais sejam adequadamente geridos. Isso inclui a coleta seletiva de lixo eleitoral e a promoção de campanhas educativas que incentivem a reciclagem e a redução do desperdício.
Campanhas eleitorais que promovem o uso de papéis reciclados, carimbos e outros materiais sustentáveis não são apenas uma estratégia para reduzir o impacto ambiental – elas também são um reflexo de um compromisso maior com o futuro. Quando candidatos tomam a dianteira em questões ambientais, mostram aos eleitores que estão dispostos a agir com responsabilidade e consciência, desde os pequenos gestos até as grandes políticas.
As eleições são um momento de escolha entre candidatos e sobre o tipo de sociedade que desejamos construir. O lixo eleitoral é um símbolo visível de como tratamos o nosso ambiente e ignorá-lo é esquecer uma parte importante da nossa responsabilidade coletiva. Ao adotar práticas mais sustentáveis, candidatos podem não apenas se destacar por suas propostas, mas por sua conduta ética e ecológica.
Que as próximas eleições tragam mais iniciativas de campanha limpa. E que essas práticas sustentáveis não só sejam apenas uma novidade, mas também o novo normal. Afinal, construir um futuro mais verde começa com as escolhas que fazemos agora.
Conheça uma ferramenta que mostra se o seu candidato tem compromisso com o combate à crise climática
Texto por Isabela Cavalcante, estudante de Direito e Relações Internacionais, fundadora do projeto social Caiçara.ong, líder regional da Girl Up Brasil e Conselheira Municipal da Condição Feminina de Cubatão.