Texto porSuzane G. Frutuoso

Como a educação e cultura resistem em tempos de ignorância

Desde muito cedo, meus pais colocaram a mim e a meu irmão em contato com atividades físicas e culturais.

Sábados de trilhas em praias e morros de Praia Grande e domingos nadando na piscina olímpica do Clube de Regatas Tumiaru, em São Vicente, eram capitaneados pelo pai.

Sessões de cinema e idas a museus eram com a mãe. Minha primeira vez no Museu de Arte de São Paulo (MASP) foi aos sete anos. Também foi meu primeiro rolê na Avenida Paulista – que então eu nem imaginava que seria um dos lugares mais corriqueiros dos meus dias.

www.juicysantos.com.br - mulher olhando quadros em museu - Photo by Samuel Zeller on Unsplash

Fiz balé por 13 anos e aprendi a tocar teclado (esse segundo longe de ser um talento, mas reforçou a importância da música). O Alex jogou tênis e aprendeu guitarra e violão.

Na família, também tios atores – e que fizeram parte do grupo que fundou a encenação da chegada de Martim Afonso em São Vicente -, primos pianistas, uma prima e minha madrinha artistas plásticas e meu avô paterno, marceneiro de mão cheia, fez o primeiro e mais lindo presépio de Natal do Shopping Parque Balneário de Santos.

Cultura em família

Mãe e pai entendiam o conhecimento mais amplo do cotidiano como complementos importantes da nossa educação formal. E quantas vezes, nas aulas da escola, a gente já tinha visto algo que era comentado nessas nossas andanças.

Lembro também do quanto foi impactante assistir dois filmes no cinema com a minha mãe, com mensagens que me acompanham até hoje na capacidade de compreensão de que algumas coisas não podem jamais ser normalizadas e aceitas por nenhum ser humano em sã consciência: “A Lista de Schindler” e “Em Nome do Pai”.

O primeiro filme sobre um homem que salvou muitos judeus da crueldade nazista. O segundo sobre jovens irlandeses que são acusados injustamente de um atentado terrorista na Inglaterra e assumem o crime depois de tortura física e psicológica.

Santos e região sempre tiveram essa alma artística. E a arte sempre traz questionamento. E o questionamento é essencial para avançarmos como civilização. É o que não deixa que se ande para trás como sociedade. Logo, fico imensamente feliz de ver como nos últimos anos esse espírito artístico/questionador se concretizou ainda mais em eventos especiais, que inclusive movimentam muito o turismo e a economia.

www.juicysantos.com.br - santos café 2019

A cultura em Santos ainda vive

Só para citar alguns e mais recentes, tivemos Festival Internacional de Dança (FidiFest), Santos Film Fest, Festival do Café e vem chegando o Santos Jazz Festival. Aliás, estou super animada com a homenagem que será feita à cantora Nina Simone na abertura – sem dúvida uma das mulheres mais questionadoras dos nossos tempos. Em breve, mais uma edição da Tarrafa Literária. Acontecem com cada vez mais frequência os bazares de economia criativa, com espaço e reconhecimento para o trabalho especial de tanta gente, como o Encontro de Criadores, O Coletivo e tantos outros.

A arte, em suas diferentes formas, sempre será parte importante da formação das pessoas. Pelo menos quando se espera que as pessoas sejam melhores. Mais empáticas, menos preconceituosas, mais humanas, menos limitadas. Tudo isso as torna também profissionais mais capazes, o que é bom para a economia do país. Porque é a diversidade que gera inovação. Inovação gera novas oportunidades. Mas a diversidade também exige respeito às diferenças e um olhar bem além da nossa estreita realidade.

Em tempos de ignorância nunca se fez tão fundamental que educação e cultura caminhem ainda mais juntas, capazes como só elas de despertar aqueles sentimentos que nos tornam maiores. Me parece que no nosso quintal praiano há muito dessa linda e resistente grandiosidade.

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Suzane é santista e cofundadora da plataforma Mulheres Ágeis e da consultoria ComunicaMAG. É jornalista, mestre em sociologia, professora e escritora. É autora do livro “Tem Dia Que Dói – mas não precisa doer todo dia e nem o dia todo”. Mãe orgulhosa da vira-latinha Charlotte.