Texto porLudmilla Rossi
Santos
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Vexilologia: como uma bandeira faria Santos ter mais orgulho de si

Fiz esse exercício outro dia: tentei pensar nas bandeiras mais legais que me vinham à mente. Minha lista: Japão, Canadá, Argentina, Coréia do Sul. Lembrei do visual da bandeira do Pernambuco. E fiquei pensando como as bandeiras das cidades nas quais vivo ou visito frequentemente mal passam pela minha cabeça.

Confesso que o Google precisou me lembrar de como é a bandeira de Santos. Pensei sobre o assunto, e como a bandeira da cidade não me provoca nenhum sentimento de pertencimento ou mesmo mora no meu cérebro na condição de uma vaga lembrança. Senti vergonha. Mas tentei entender as razões.

Pode parecer uma conversa meio maluca e queria contextualizar: tenho a musculatura do design mais ativa do que as minhas panturrilhas. Não consegui não pensar sobre e muito menos não lembrar que cada bandeira que flamula já passou pelas mãos de um designer. Existe nome pra quem estuda isso: vexilologia.

Em que aula eu dormi, pra não saber isso? Ensinam isso nas faculdades de comunicação da região?

bandeira-branca

Depois da frustração pelo atraso e da alegria por descobrir algo novo, tentei dar uma mergulhada no assunto e achei o talk do Roman Mars sobre design vexilológico. O recado é que boas bandeiras geram uma pertencimento cívico que melhora a autoestima de cidades, e leva adiante sua essência. Existe uma ligação direta entre um forte simbolismo e o orgulho cívico.

É quando eu paro e penso: a bandeira de Santos é um brasão de armas, um castelo com caridade no meio escrita em latim.

Uma contradição conceitual.

E no talk, Roman define o que é  uma boa bandeira. Que na verdade resume bem o que é uma boa peça de design.

Para que uma bandeira seja memorável e amplamente utilizada, ela deve seguir alguns parâmetros (e mais pra frente veremos que a bandeira de Santos, que é de 1957 não pensou muito nisso).

  1. Manter a simplicidade: uma bandeira precisa ser tão simples que uma criança deve conseguir memorizá-la e desenhá-la
  2. Usar simbolismos com significado profundo
  3. Usar duas ou três cores, deuma paleta de cores neutra, primária e secundária
  4. Sem letras ou selos: se você tem que escrever o nome do que você representa na bandeira, o simbolismo falhou
  5. Escolha o caminho: distinto ou legatário

Com esses princípios as bandeiras ganham outra dimensão: a presença constante nas cidades, a facilidade de utilização nas mais diferentes mídias e em momentos solenes.

Vamos, então, dar uma espiadinha na bandeira da nossa querida cidade:

bandeira-de-santos-sp-brasil

Brasão de armas?

Serião?

Desculpa aí Benedito Calixto.

Quem lê “à pátria ensinei a caridade e a liberdade” em latim enquanto a bandeira flamula?

Quem consegue olhar e entender TODOS esses detalhes a distância?A bandeira tem como simbolismo sangue, café, ouro, serpentes…

Do jeito que o Santista é bairrista e orgulhoso de sua terra, talvez se nossa bandeira fosse mais bem pensada, teríamos-a estampada por muitos cantos da cidade.

Roman traz as seguintes palavras que nos fazem pensar:

“Se você vê a bandeira da sua cidade e gosta dela, não tem problema que ela quebre as regras. Mas se você não enxerga a bandeira da sua cidade, pode ser que ela não exista. Ou pode ser que ela exista e ela simplesmente seja péssima. Eu desafio você a se empenhar para mudá-la.

Quanto mais mergulhamos numa cidade, mais entendemos que sua bandeira não é apenas um símbolo da cidade como lugar, mas deveria ser um símbolo de como aquela cidade se enxerga e se desenha, especialmente nos dias de hoje, quando as pessoas estão mais sensíveis e educadas sobre design.

Uma bandeira bem desenhada pode ser vista como indicador de como uma cidade considera todos os seus sistemas de design: o transporte público, os espaços públicos, sua sinalização. Pode parecer frivolidade, mas não é.

O casamento de um bom design com a civilidade e orgulho é algo que precisamos em todos os lugares

[…]

Quando as bandeiras são bem feitas, elas são remixáveis, adaptáveis e poderosas. Nós controlamos o branding e as imagens gráficas de nossas cidades com uma boa bandeira. Mas quando temos bandeiras ruins, nós não as usamos e cedemos espaço para bandeiras de times esportivos, associações comerciais e de turismo.”

Para quem quer entender mais sobre vexilologia, conhecer bandeiras maravilhosas e outras bandeiras bem piores que a de Santos, dá o play no vídeo abaixo (em inglês):

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