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Essa página já foi melhor – disse o preconceito

Quando comecei o Juicy Santos em 2011, junto com a Flávia Saad, o mundo era outro. A popularidade da Internet era diferente do que conhecemos hoje com menos vídeos, menos criadores de conteúdo, menos pessoas dispostas a compartilharem suas opiniões e claro, menos atenção. O auge eram os blogs, sejam pessoais, sejam de temas específicos, sejam os blogs de moda, tataravôs dos TikTokers. Dava trabalho fazer conteúdo e encontrá-lo, visto que a incidência dos algoritmos era muito menor. Havia um clima mais pacífico no ar e digo isso com zero saudosismo. Eu acho ótima a democratização de conteúdo e a multiplicação das vozes que as redes sociais nos ofertaram.

No entanto, essa democratização abriu portas paras todos os tipos de visões de mundo. Os algoritmos invadiram a nossa rotina, com mais vídeos, mais horas e smartphones sendo parte de todos os momentos das nossas vidas. Adicionemos à essa fórmula o WhatsApp, que hoje alcança 99% dos brasileiros on-line (147 milhões de pessoas, segundo o Statista) e as eleições de 2018, onde todos tomamos consciência do tamanho da polarização nos quais os nossos círculos sociais se meteram.

Nesse texto e contexto local, convidar você a pensar: como é que, na semana que marca o orgulho LGBTQIA+,  ainda temos pessoas achando um absurdo que Santos celebre a parada gay?

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Comentário no Instagram do Juicy Santos

Vejamos que, essas pessoas seguem o Juicy Santos no Instagram por razões diferentes: umas querem olhar informações da cidade, agenda cultural, dicas de restaurantes. Outras querem entender o que olhar e como olhar por aqui. Essas pessoas usufruem de uma grande produção de conteúdo de maneira gratuita, que é um dos pilares do Juicy Santos: produzir conteúdo hiperlocal gratuito. Porque será, que essas pessoas, que passaram anos, meses, semanas se beneficiando de um trabalho de pesquisa, curadoria e produção, que decidiram voluntariamente nos seguir, acreditam que “não são obrigadas” a ver “esses conteúdos”?

O conteúdo ao qual ele se refere é a publicação de um evento que já faz parte do calendário oficial de muitas capitais globais. Capitais que essas mesmas pessoas se encantam ao visitarem por sua pujância social e econômica, como é o caso de Nova York. A cidade, inclusive, possui uma página inteiramente dedicada aos eventos do “orgulho”, em um site específico chamado NYCpride.

Não é curioso pensarmos que, Santos, essa cidade cujo alguns habitantes são corajosos o suficiente para se indignarem sobre a divulgação de um evento LGBT, possam ser os mesmos que viveram nos tempos áureos da The Pink Panther Boite? E mesmo que não sejam, talvez sejam descendentes de pais e avós que estiveram nessa Santos? Para quem nunca ouviu falar dessa história, estamos falando de uma boate que fez história na cidade, atraindo pessoas de todos os cantos e sendo ponto de encontro da elite local. Sim, estamos falando de políticos, deputados, gente poderosa da cidade que aplaudia pessoas LBGTQIAP+, que faziam suas performances em um dos palcos mais importantes da cidade. Essa história virou documentário e você pode assistir na íntegra clicando aqui.

É difícil entender os caminhos para virarmos uma cidade tão conservadora.

É difícil entendermos como a intolerância chega, se acomoda é construída camada a camada num mundo com tanta informação à nossa disposição.

Além de difícil é curioso, porque em quanto mais tolerância temos, mais mercados alcançamos, mais redes formamos.

E esse tipo de reação não foi exclusividade do Juicy. Se olharmos a página Viver em Santos, outro Instagram da região, é cada comentário de chorar.

Mas como as pessoas se tornam preconceituosas?

Experiências pessoais, transferência geracional de preconceitos, certos traços de personalidade, como autoritarismo ou baixa autoestima, podem aumentar a propensão ao preconceito. Mas principalmente a falta de conhecimento sobre um determinado grupo pode levar a estereótipos e preconceitos. Todos temos vieses e o mundo, por muito tempo reforçou esses vieses. Os anos 90 foram uma festa, um open bar de distorções. Se você não acredita, dá o play nesse vídeo do programa de humor Casseta&Planeta.

Alguns dizem que o mundo ficou chato, que tudo é politicamente correto, uma discussão justa se quem dissesse isso, em grande parte dos casos, não fizesse parte dos grupos mais privilegiados da sociedade. É preciso estudar sobre o volume de opressão que a população LGBT passou e ainda passa em muitos lugares do mundo.

Muita gente inclusive não sabe a origem da celebração do movimento LGBT, que nasce de um dia de luta: uma série de protestos espontâneos realizados por membros da comunidade LGBT em resposta a uma batida policial que começou nas primeiras horas da manhã de 28 de junho de 1969, no Stonewall Inn, um bar localizado no bairro de Greenwich Village, em Lower Manhattan, na cidade de Nova York. Naquela época, a polícia frequentemente fazia incursões em bares gays, assediando, prendendo e até mesmo agredindo os clientes.

No entanto, na noite de 28 de junho de 1969, os clientes do Stonewall Inn, cansados ​​de anos de abuso, decidiram resistir. Quando a polícia começou a prender os clientes, uma multidão se formou na rua e os protestos rapidamente se espalharam pelo bairro. A Rebelião de Stonewall é considerada um marco crucial no movimento pelos direitos LGBT. Ela deu início a uma onda de ativismo e organização que levou a avanços significativos nos direitos das pessoas LGBT nas décadas seguintes. Seja Stonewall, seja a parada gay em qualquer cidade do mundo, são um lembrete de que a luta por justiça e igualdade ainda é longa.

No que depender do Juicy Santos, já percorremos um longo caminho.

E tem muitas pessoas que talvez estejam desatentas sobre o que sempre fizemos. São aquelas que falam que mudamos, que já fomos melhores, porque não entenderam que desde os nossos primeiros passos, falamos sobre igualdade e justiça social.

Reli hoje um post do passado comemoramos 4 meses de existência e a criação de uma “coluna GLS”. Sim, desde então, quando os nomes eram outros e os tempos também.

Esaa página já foi melhorEssa página já foi melhor.

Essa cidade também.

Ludmilla Rossi
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