Texto porJuicy Santos
Santos

MPBTrans: uma geração que transcende

Trânsito. Transbordamento. Transparente. Transformação. Transcendente.

Essa é a geração MPBTrans.

Movimento que vem renovando e crescendo na música brasileira entre o erudito, o popular e as massas, e ganha voz através de artistas que buscam desconstruir padrões de gênero.

www.juicysantos.com.br - mpb trans Ilustração: Igor Villa

Muitas dessas vozes não só cantam como também protestam; não apenas compõem, mas exalam poesia e amor; outras gostam mesmo é do swing, do rebolado e de divar. Mas uma coisa é incontestável: essa representação no cenário musical é praticamente inédita pela quantidade de artistas que se destacam no meio cultural.

O movimento vem da essência do prefixo “trans” que significa se deslocar, mudar, travessia, se mover de uma condição para outra, para além. Outros movimentos também transformaram o cenário da música brasileira, trazendo mudanças profundas na forma como se fazia canção no país e marcaram a nossa história para sempre, como a bossa nova e o tropicalismo, principalmente este último movimento cultural, que fez surgir grandes artistas no teatro, na literatura e na música como os Doces Bárbaros, os Mutantes e os Novos Baianos, influenciados pelo rock, o concretismo e até a antropofagia de 1922.

Em plena ditadura militar dos anos 70, surge o grupo Secos e Molhados. Enfrentando qualquer desafio, eles investiram em uma performance andrógina e ousada para a época. A banda revolucionou a música brasileira com rebolados, trajes, maquiagens ultra-extravagantes e a voz do Ney Matogrosso totalmente diferente de tudo o que já havia passado pelos palcos e rádios do país.

www.juicysantos.com.br - secos e molhados

Depois de quase 50 anos, eis que surgem resultados do que foi esse primeiro grito dos Secos e Molhados. Muitos desses gritos ecoam tão forte que, se fecharmos os olhos sentimos o ultrapassar das questões entre feminino e masculino, sendo levados pelo que a canção carrega, seja ela transbordada de alegria por finalmente poder ser quem é, ou pela dor do calar de tantos anos.

A pop Pablo Vittar é uma das figuras mais populares desse movimento, mas a MPBTrans é muito plural e tem para todos os gostos. Do hip hop, rap, funk, de Gloria Groove, Rico Dalasam e MC Linn da Quebrada (foto abaixo) e o não-binarismo de Triz até a mistura do romantismo, jazz e rock de Liniker, da banda As Bahias e A Cozinha Mineira com Assucena Assucena e Raquel Virgínia, Deena Love e Valéria Houston. Sem esquecer o androginismo de Johnny Hooker, Jaloo e Felipe Catto.

www.juicysantos.com.br - linn da quebrada

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Com toda certeza existem muitos outros nomes, claro! Quando comecei a pesquisar, descobri que esse movimento é muito maior do que poderia imaginar. Não só na quantidade dos cantores, mas pelas letras, ritmos e originalidade.

Nas redes sociais, purpurina, protesto e poesia se unem para elevar e defender vozes sempre tão marginalizadas. E assim se dá o verdadeiro sentido da música que é a liberdade de expressar a arte.

Por isso, fiz uma playlist bacanérrima com quinze nomes diferentes que vem se firmando mais e mais pelas mídias sociais. São artistas que ultrapassam fronteiras do gênero e até do andrógino trazendo representatividade e força social para as minorias.

Então aperta o play e se transforme com a energia que vem dessas vozes:

Por Jéssica Lemos, estudante de letras, Escrita Literária junto ao curso de Formação de Escritores da Baixada Santista pelo Núcleo de Incentivo à Palavra e pesquisadora autônoma da música popular brasileira.

Sobre Jéssica Lemos

Tem 28 anos, nasceu em Recife e mora atualmente em Santos. Apaixonada pelo mundo das palavras, respira literatura desde menina, quando imaginava personagens fantasmagóricos para suas histórias inusitadas da infância. Autora dos blogs Narrativas Desvairadas (escrevendo contos, crônicas e poesias) e Musicando Brasil (falando sobre as novas vozes da MPB). Escreve paralelamente uma coluna no projeto musical Brasillis, trazendo curiosidades sobre as nossas canções. Trabalha junto ao Evento Autoria Cultural: leitura e escrita para todos e atua como assistente de direção e composição para Ju Gonçalves Fotografia.