Texto porJuicy Santos
Santos

Ornella Rodrigues, uma poeta santista que você precisa conhecer

Não sabia que incomodava ser quem sou até começar a incomodar”

Fortes e reais, os versos são da poeta santista Ornella Rodrigues.

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Como Domar um Coração Selvagem é a sua primeira coletânea. Reúne 74 poemas e foi editado pela Editora Fractal, de São Paulo.

Neste sábado (22 de setembro), na livraria Realejo, a partir das 18h30, com discotecagem da DJ Afreekasia, Ornella vai compartilhar o resultado da estreia literária com o público de sua cidade natal.

Aos 39 anos, Ornella, também performer e fotógrafa, desponta como uma voz singular em nossa região. É uma expoente deste que talvez seja o mais importante fenômeno editorial brasileiro contemporâneo: a literatura de mulheres negras.

“Escrever para não morrer/não é só metáfora/de escritor branco”, escreve, a certa altura, no livro.

Mas, mesmo neste campo, sua obra é singular, conforme afirma no prefácio o poeta Marcelo Ariel:

“Ornella não está só e é parte de uma poderosa corrente de vozes femininas que anunciam a força do corpo como potência”.

Ornella Rodrigues em imagens e poemas

Formada em letras na Universidade Católica de Santos e com especialização em Psicopedagogia na Universidade de Santa Cecília (UNISANTA), ela atualmente é uma das 13 artistas integrantes da incubadora de criatividade A Colaboradora, desenvolvida no LABxS (Laboratório Santista).

Dá pra acompanhar seu trabalho como fotógrafa e escritora nas redes sociais.

“A poesia é uma forma de exterminar meus fantasmas, de colocar um pouco da minha vivência enquanto mulher negra, gorda, fora de padrão, principalmente nessa sociedade tão normativa e cheia de rótulos”, diz, em texto publicado no posfácio do livro pelo jornalista Leonardo Foletto.

Muitos dos poemas partem dessa sua experiência sensível do mundo, mas não se tornam panfletos ou caminham na direção da denúncia social. Pelo contrário, em sua estreia, Ornella escreveu um livro de amor, em que expressa a imensidão de sentimentos que lhe atravessam.

minha poesia sai do coração, sangrando, batendo, acelerado, tudo que escrevo é vivo, intenso, nada é abstrato”

Os poemas, aliás, não têm título, o que faz com que o livro possa ser lido como uma única grande obra. Nele, os temas vão e vem, com diferentes ênfases, contornos, produzindo no leitor distintos sentimentos, como empatia, admiração e desejo.

Ser poeta, negra, resistir quando o desejo é apenas viver”

Escritora desde criança, Ornella só se assumiu artista recentemente.

Antes, sua escrita esteve à serviço da militância feminista e do movimento negro, campos de luta com os quais segue associada até hoje, embora de outras maneiras. Outro aspecto fundamental de sua biografia que reflete em seu trabalho é sua religiosidade, uma vez que é filha de Oxalá e Oxum. E, em muitos dos poemas, ela tematiza sua relação com essas figuras.

O que você vai encontrar na estreia de Ornella Rodrigues

Ornella compartilhou com a gente alguns de seus outros poemas.

Mereço profundeza, busco o abismo”

“Então faça do meu corpo rio, navegue sem rumo, sem medo de temporais”

“Será possível um corpo comportar outro não fazer dele cais”

By: Victor Sousa