Como colocar ideias no papel?
Essa pergunta lhe gera ansiedade? Você é daquelas pessoas que ficam horas e horas diante de um papel ou tela em branco, aguardando inspiração, quando precisa escrever um texto? Morre de medo da gramática e das regras e exceções que ela traz? Tem muitas ideias, mas não consegue colocar ideias no papel (ou no .doc)?
A escrita, assim como a norma e a gramática, é vivenciada como um tabu por muitas pessoas. Mas a gente se esquece de que ela é, tal como a fala, uma forma de expressão.
O que acontece é que desde o momento em que começamos a falar, com 1 ano de idade ou um pouco mais, não paramos de praticar. Dessa forma, vamos treinando a nossa comunicação oral, nossa expressão, nosso poder de argumentação e crítica, a organização do pensamento antes de falar, de modo que o treino faz com que você atinja um patamar suficiente no quesito comunicação oral.
Mas e a escrita? Como agimos com ela?
É fato que não oferecemos à escrita o mesmo tratamento dado à fala. Deixamo-la de lado, achamos que não nascemos para isso. Ao não conseguirmos colocar as ideias no papel pensamos “tudo bem”, “deixa pra lá”. E, assim, muitos desistem do treinamento, da prática e do processo de escrever.
Escrever é trabalhar
Em 2005, durante o mestrado na Universidade de São Paulo, tive a oportunidade de pesquisar sobre o processo criativo do escritor modernista Mário de Andrade. Ali, pude lidar diretamente com os manuscritos e com as anotações do escritor. Compreender seu caminho de criação (por meio de leituras, cartas trocadas com outros escritores, registros de viagens, diários, blocos de notas, etc) até a finalização de um livro.
Isso tudo me fez entender que a escrita é um processo que nasce no plano das ideias e depois é seguido por um planejamento para se chegar a uma versão satisfatória de um texto, a partir de um método de organização. Thomas Edison dizia que a genialidade é “1% inspiração e 99% transpiração”. Mário de Andrade me provou isso. Para se tornar um grande escritor, trabalhou muito escrevendo.
Com o ensino e a aprendizagem do ato de escrever não é diferente. É preciso tempo, projeto de texto e treino para que a aprendizagem aconteça de forma profunda e significativa.
Para escrever bem, de modo claro e objetivo não é preciso inspiração ou talento. É preciso trabalho e treinamento constantes.
Crie o hábito para colocar ideias no papel
A escritora Octavia Butler tem uma frase ótima sobre isso:
“Esqueça a inspiração. O hábito é mais confiável. O hábito vai sustentar você se estiver inspirado ou não. Hábito é persistência e prática”.
Por isso é tão importante não abandonarmos a escrita. Em um mundo de comunicações rápidas e superficiais dominadas pelos aplicativos de mensagens instantâneas, precisamos valorizar a expressão escrita bem fundamentada e profunda para colocar ideias no papel.
Há mais de 15 anos trabalhando com produção textual, ensino de técnicas de redação e revisão de textos posso afirmar que o aprimoramento da escrita influencia a fala de forma visível. Quando uma pessoa começa a escrever de forma mais clara e consegue se expressar melhor pela escrita, a sua expressão oral também evolui. O senso crítico fica mais apurado e o raciocínio se desenvolve com mais fluidez.
É magnífico ver a evolução de um indivíduo a partir do momento em que ele toma consciência do seu poder de escrita. Torna-se mais confiante. Nesse sentido, percebo que a escrita pode ser, inclusive, terapêutica, pois fortalece a autoconfiança e a autoestima.
Escrever é um ato de resistência e de existência. A escrita é uma comunicação poderosa e guarda muita beleza. Não desista da sua!
Espaço da Escrita, por Aline Nogueira Marques
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