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A inversão de valores na blogosfera

A Vic Ceridono (@diadebeaute) tuitou a frase que me motivou a fazer esse post: “É impressionante como hj em dia não se pode mais fazer um post espontaneo de uma marca q já tem leitora vindo falar q é jabá. Da 1 desânimo…”

Pois bem, chegou a hora de falar sobre esse assunto e sobre a inversão de valores que acontece HOJE (se você veio do futuro, nós estamos em setembro de 2011, só pra constar), nos blogs brasileiros. Dos pequenos aos grandes anunciantes, nenhuma marca atualmente duvida do poder e da audiência dos blogs. São milhões que blogs espalhados pelo mundo, feitos por gente muito interessada em N formas de expressão. Cada blog tem sua motivação e tipo de conteúdo, mas todos tem algo em comum: a vontade de expressão do seu dono (ou dos seus donos).

O tuite-desabafo da Vic.

Sugestões para você

Não vale citar aqui aquele blábláblá todo de que os blogs começaram efetivamente em 1999 e etc. O que devemos pensar é que um curto espaço de tempo permeia o grande boom dos blogs brasileiros. Acho que esse reconhecimento dos blogs como veículo importante começou em 2006, data na qual as assessorias de impresas / RPs começaram a colocar blogs nas listas de convidados de seus eventos e passaram a enviar aos mesmos releases, lançamentos e produtos para testes. Se pensarmos, isso é bem recente pra gente, e entenda “gente” como blogueiros, jornalistas, agências e anunciantes.

Até hoje (apesar de mais comum) algumas marcas evitam abordagens muito diretas “Oi, faz resenha? Troco uma resenha por um esmalte êeee”, apesar de isso ser bem comum e NADA anti-ético (cada um tem liberdade e é responsável pelo que publica). Se minha memória não estiver me pregando uma peça, em 2008 rolou um burburinho na blogosfera de beleza pois “uma grande marca” ofereceu um mini-rímel em troca de um post, despertando a fúria de blogueiras que se unira pra levantar uma bandeira muito importante: a da profissionalização.

Profissionalização é diferente de ser vendido, de ser careta, de ser chato, de burocratizar. Profissionalizar é dar valor a um tipo de trabalho, independente de formalizá-lo. Pois vamos combinar que fazer um blog dá trabalho, por mais que seja hobby na maioria dos casos. Até as coisas divertidas são um trabalho danado: viajar dá trabalho, cozinhar dá trabalho, pintar um quadro dá trabalho.

No início da “valorização dos blogs”, tudo que era postado parecia espontâneo, e os blogs e seus autores emprestavam sua opinião ao produto, na maioria dos casos absolutamente sinceras. Foi assim que conheci a Eyeko, no post totalmente espontâneo, de uma menina que tinha comprado aquele rímel fantástico deles. Foi assim também que conheci várias outras marcas e produtos, assim como faço quando abro uma revista qualquer.

Em um determinado momento muitas marcas sacaram a estratégia do presente, e uma das polêmicas do “Te dou um presentinho, blogueiro querido do meu S2” foi o case da geladeirinha do i9 da Coca-Cola. E aí foi cunhado o termo blogueiros de aluguel (2008). Resumindo a história, a Coca fez uma ação super legal , distribuindo brindes super personalizados para 9 blogueiros (ou seja, nada massivo). Foi uma ação, melhor do que muitas outras por aí, o Blue Bus foi lá e criticou, usando o termo blog de aluguel.

Seguem 2 links para quem quiser resgatar essa história (recomendo!).
i9 Hidrotônico. 9 blogs para experimentar a novidade.
Sobre o caso “blogs de aluguel”

A ação da Coca-Cola era uma tentativa de parecer espontânea, mas abriu uma discussão muito importante (gerou mais buzz do que o planejado) e muitas dúvidas: o que é espontâneo? O que é pago? Em qual momento estou lendo uma opinião sincera? Como percebo se é uma opinião comprada? Pois bem, colocando mais lenha (e gasolina) na fogueira, vieram uma série de jornalistas acadêmicos (que amarguraram a queda do diploma em 2009) ruminando que blogueiros não tinham credibilidade editorial. Nem vale comentar, isso né? Até porque muitos dos blogs que AMO são feitos por jornalistas ímpares.

Então, vamos lá: marcas se interessam pelos blogs porque esses blogueiros e/ou jornalistas, podem, através de um veículo independente prover sua opinião sincera e espontânea sobre um produto, serviço ou experiência. Isso continua sendo feito, e acredito que seja a grande graça. Só que agora, já tem leitor reprimindo blogueiro e acusando, falando que post espontâneo é na realidade jabá.

Confesso que fiquei bastante indignada com quem causou esse sentimento na Victoria Ceridono. Não tenho qualquer vínculo com ela, mas acompanho o blog periodicamente, o blog dela é de beleza, onde o principal atrativo é o conteúdo de referências e testes de produtos. Se ela ganhou um produto ou se ela comprou, não interessa: o que interessa é se aquele conteúdo funciona e serve para alguém, se o seu formato é adequado para os seus leitores. Qual a importância de saber se um blogueiro comprou o ganhou o produto daquele post? Sim, eu acho que publiposts devem ser informados,  só que em alguns momentos a convergência de assuntos e interesses é tão grande que a linha tênue entre publicidade e conteúdo desaparece.

Em 06 de agosto de 2011, durante as minhas férias, estive num encontro de blogs femininos, em San Diego, Califórnia, EUA. Eu poderia falar bastante do evento, mas fica para outro post só do BlogHer 2011. Quero só dizer que ganhei trocentos brindes, alguns muito legais – só vou resenhar, SE EU RESENHAR, aqueles que tiverem convergência com o conteúdo que estou produzindo.

Isso é uma ecobag criativa em formato de morango da Shari´s Berries. O mais interessante não é isso… é a abordagem deles.


Direto e reto, o pragmatismo americano. Quer resenhar os produtos deles? É só falar, eles abordam mesmo.

A Best Buy, gigante americana na área de gadgets, telefonia e computadores também estava no evento com uma abordagem bem similar: quem quisesse receber produtos para testes, bastava se inscrever, e eles deixavam bem claro que você poderia ficar com o produto. Mais pragmatismo, impossível.

O que importa, afinal?
Conteúdo, gente! Conteúdo… no caso da Vic Ceridono, não interessa a origem do produto: independente disso, ela escolheu aquele produto, investiu o tempo dela testando e compartilhando opinião. Qual o valor disso?

Escolha bem quem você lê, escolha bem os posts que você lê, simples assim. Algo lhe parece estranho, manipulado? Avalie, sempre focando no conteúdo. Essas pessoas e conteúdo escolhidos por você também fazem um exercício diário de escolha. Como tudo que cresce rápido, o momento é de saturação, onde as escolhas tem um valor maior ainda.

Tudo que pareceu espontâneo ontem, NÃO é o jabá de hoje. Menos melindre e um pouco mais de pragmatismo seriam portanto duas ótimas escolhas.

Ludmilla Rossi
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