Texto porJuicy Santos
Santos

Eu quero fazer graffiti – entrevista com Nina Pandolfo e Leandro Shesko

Todo tipo de arte novo causa impacto. Foi assim desde os primórdios. Com a street art e o graffiti não foi diferente. Sempre cercada pelo preconceito, a street art hoje em dia têm artistas renomados e de grande expressão nacional e internacional.

O Juicy foi atrás de dois artistas e perguntou pra eles como foi o inicio da carreira no graffiti e como se encontra este cenário hoje em dia.

NINA PANDOLFO

nina pandolfo

Conheci o trabalho da Nina ao folhear uma revista onde havia uma matéria sobre ela. Achei as fotos dos trabalhos dela incríveis. Mal sabia que se tratava de uma das maiores artistas de street art do Brasil e do mundo. Além de ser casada com um dos “gêmeos”!

Com traços femininos e muita cor, os trabalhos da Nina enchem o ambiente de doçura e alegria ao mesmo tempo. Perguntamos pra ela como ela começou e como se profissionalizou como artista:

Juicy: Em que momento a arte e o graffiti passaram a ser seu foco profissional principal? Você tentou trabalhar com outra área antes?

Nina: Ainda pequena, eu dizia que queria trabalhar com arte/desenho mas não tinha uma ideia formada de como. Queria ser estilista, desenhista de quadrinho, ilustradora de livros. Conforme fui crescendo, conheci novas técnicas e suportes: pintava telas com tinta a óleo, acrílica, testava pinturas sobre pedras, tecidos. Aos 14 anos, resolvi fazer o colegial técnico para já ir tendo conhecimentos em alguma profissão. Fiquei em dúvida por, tão cedo, ter que decidir o que faria profissionalmente, mas após uma conversa com minha mãe sobre isto, ficou muito claro que eu iria trabalhar na arte de qualquer forma. Foi então que comecei a me dedicar em conhecer mais e mais técnicas e todo o universo que envolve a arte. Continuei pintando telas e conheci a técnica do graffiti também. Trabalhei paralelamente em empresas, em áreas bem diferentes da arte, para poder investir em meu trabalho de arte: comprar materiais e uma câmera de fotografia boa, por exemplo. Mas sempre fazia um trabalho de arte aqui e outro ali, até chegar o momento em que a demanda de trabalho de arte era tão grande que não consegui conciliar as duas coisas. Larguei o trabalho na empresa. Que aconteceu no mesmo período de minha primeira exposição numa galeria de arte fora do Brasil.

nina pandolfo

Juicy: Como este mercado do graffiti é hoje para os jovens? Mais aberto? Mais acessível? Menos preconceituoso?

Nina: Atualmente o graffiti tem se destacado como “a arte do momento”. Isto facilita muito para os novos artistas, mas existe ainda um pouco de preconceito. Muuuuuuuuiiiiito menos que antes. Hoje quando você diz que faz graffiti, as pessoas já sabem o que é e acham legal. Quando eu comecei a fazer graffiti ninguém sabia o que era.

Juicy: Como foi isso para uma mulher?

Nina: No inicio, por ser uma arte que ninguém conhecia, que ninguém sabia direito se era proibido, se era arte, se era legal ou cool, as pessoas não conseguiam compreender e nem ter uma opinião formada do que era uma mulher fazer graffiti. Mas, como em todas as profissões, sempre tem alguém com preconceito sobre uma mulher fazer uma atividade que é feita na maioria por homens. E pra mim isto acontece até os dias de hoje. Mas tive o privilégio se sempre estar cercada de outros artistas (homens) que me apoiavam.

nina pandolfo

Juicy: Para quem se interessa, como começar? Procurar um curso? Onde?

Nina: Acho que o primeiro passo é desenhar muito, estudar um estilo diferente de todos que existem, desenvolver algo que te represente em todos os sentidos. Hoje em dia, com a internet, tudo está mais fácil. Existem lojas do especializadas e muitos cursos. Cada pessoa tem uma maneira de aprender. Mas a base de tudo pra mim, é o desenho, é estudar o estilo.

LEANDRO SHESKO

leandro shesko

Perguntamos ao Leandro Shesko, representante da Street Art santista e responsável, juntamente com outros artistas, pelo atual graffiti do Emissário Submarino, como mostramos aqui:

Juicy: em que momento a arte e o graffiti passaram a ser seu foco profissional principal? Vc tentou trabalhar com outra área antes?

Leandro: Desde que entrei em contato com o graffiti, há cerca de uns 12 anos atrás, ele se tornou a minha meta profissional. Desenho desde criança, e tudo me levava a crer que eu iria para o mercado editorial, principalmente por causa da minha paixão por ilustração e quadrinhos. Mas minha visão mudou quando conheci a arte urbana. Tudo que veio depois disso me levou à superação de qualquer dificuldade, pra que um dia eu pudesse aperfeiçoar minhas técnicas e dar continuidade à realização das minhas criações. Paralelamente a meus estudos, pessoais ou acadêmicos (o trabalho em spray foi a única atividade que desenvolvi como autodidata, mas no desenho e na arte sempre tive facilidade mas também meus mestres), trabalhei nas mais diversas funções: entregador de empório, promotor de eventos, vendedor de loja e distribuidor de bebidas. Já faz um tempo que venho trabalhando apenas com arte como freelancer. Já trabalhei como professor numa escola de arte, faço workshops, pinto telas sob encomenda e participei de algumas exposições coletivas, customizo os mais variados objetos, e hoje, sou designer em uma produtora audiovisual. . Também fui tatuador durante 3 anos. Atualmente estou numa fase em que consigo conciliar meus trabalhos de decoração artística com a profissão de designer, o que é bacana pois além de conseguir realizar trabalhos agradáveis e satisfatórios, consigo material e inspiração para desenvolver criações autorais nas ruas com o graffiti.

leandro shesko
Juicy: como este mercado do graffiti é hoje para os jovens? Mais aberto? Mais acessível  menos preconceituoso?

Leandro: não sei nem se podemos dizer que existe um mercado do graffiti, já que o graffiti em si é uma expressão livre ligada a um “vandalismo artístico”. Mas no que diz respeito aos trabalhos em spray, com certeza é um cenário que está mais aberto e menos preconceituoso. Mas acho que tudo só tende a evoluir positivamente com a chegada de novos artistas e representantes do movimento, chamando cada vez mais a atenção do poder público e privado, aperfeiçoando técnicas e materiais, e acima de tudo rendendo novas obras e intervenções.

Juicy: para quem se interessa, como começar?
Lenadro: Pra quem se interessa, a melhor maneira de começar é…começar! rs
Quando digo começar é ir pras ruas mesmo: conseguir autorização pra pintar a parede de casa ou do vizinho, procurar um lugar bem abandonado que não trará problemas…e pintar! Sentir o material, a superfície, a transferência do desenho para um tamanho grande, o contato com as pessoas e situações cotidianas… E, posso reforçar também, que algo muito importante, mais do que aprender a trabalhar com sprays e tinta (que é algo que vem naturalmente com a prática), desenhar bastante, o mais que puder.

leandro shesko

Juicy: Procurar um curso? Onde, aqui na Baixada?
Leandro: Não existem muitos cursosna Baixada; talvez algo em SP. Existem workshops esporádicos em eventos. Aqui em Santos, eventualmente realizamos oficinas, e de vez em quando rola alguma coisa no Sesc. Mas o pessoal daqui é bem receptivo, então acredito que entrar em contato com o Pesado (aFase!) é um bom caminho, já que além de ter acesso a material de primeira qualidade que é vendido lá, já tem acesso a encontros de graffiti que são promovidos todos os anos. É um canal de contato pra chegar a todos os artistas da região.

Juicy: Quais os desafios e diferenciais dos grafiteiros da baixada?
Leandro: Não há muito espaço público disponível, já que na região não temos por exemplo aqueles enormes muros de concreto em encostas de grandes avenidas e viadutos. Terrenos baldios e casas abandonadas são raros com esse boom imobiliário.
Por outro lado a aceitação das pessoas e das autoridades é bem satisfatória. Por outro lado conseguimos aproveitar muito do que transborda de SP, afinal é uma referência bem próxima a tomar de exemplo. Acho que aqui na baixada temos uma leva enorme de artistas muito bons, no entanto a cena geral da arte urbana aqui é fraca, e devo admitir que grande parte disso se deve à ausência de interferências pelas ruas, até de vandalismo mesmo, mas que fazem qualquer um ter contato com a cultura ao caminhar pelas ruas. Só temos um fornecedor de material bom por aqui, no entanto ele vende um dos melhores materiais. Agora, se posso citar um dos melhores diferenciais daqui: pintar com o cenário da praia ao redor, com certeza é algo super gratificante pra qualquer um.

Pra quem já faz street art ou se animou em tentar, manda pra gente fotos do seu trabalho pra publicarmos em nossa página do Facebook!