Texto porLuiz Gomes Otero

O “desaparecimento” de Erlon Chaves

É impressionante o poder que a mídia brasileira tem para esquecer determinadas figuras de nossa música. Parece até que alguns talentos comprovadamente natos são obrigados a enfrentar um ostracismo involuntário, incômodo e, sobretudo, injusto.

Um desses casos inexplicáveis é o do maestro e arranjador Erlon Chaves. Em novembro deste ano, completou-se 40 anos de seu falecimento precoce, vitimado por um infarto fulminante aos 41 anos. E pouco se falou dele na grande imprensa escrita e falada.

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Para quem não sabe, Erlon Chaves começou na música no final dos anos 50. Desde então, atuou como arranjador de vários artistas, como Elis Regina, Wilson Simonal e Agostinho dos Santos, só para citar alguns deles. Teve papel marcante na época dos festivais, quando foi  o autor o hino do Festival Internacional da Canção (FIC) de 1968.

Participou, ainda, de uma edição desse mesmo festival, em 1970, com a canção Eu Quero Mocotó, de Jorge Benjor. Ele, que era negro, provocou enorme polêmica ao final dessa apresentação, por ter sido beijado por várias mulheres loiras. É bom lembrar que estávamos no período do Governo Militar, quando a censura atuava de uma forma forte na cultura do País.

Foi nessa época que ele batizou o coral e os músicos que o acompanhavam de Banda Veneno. Com esse grupo, gravou discos antológicos, que até hoje são disputados em sebos pelos amantes da boa música. A história da banda Veneno seria encerrada precocemente com a morte inesperada de Erlon, no ano de 1974.

Sigo na rede social o baterista Ivan Conti, o Mamão, que integrou a Banda Veneno. E Conti confirmou a genialidade do maestro, dizendo que foi com ele que aprendeu a ser músico.

Naquela época, gravavam tudo ao mesmo tempo no estúdio, o que representava um enorme desafio para eles. Mas isso acabou sendo uma escola e tanto para todos da banda.

Ivan Conti fundou logo depois o grupo Azymuth, com José Roberto Bertrami e Alex Malheiros, que decolaria uma carreira no exterior com êxito. O cantor Ed Motta é um fã confesso de Erlon. Ele sempre faz questão de citá-lo como influência marcante em sua formação musical.

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Independente das tendências atuais da mídia, Erlon não merecia ser tão esquecido assim. Não só pela sua contribuição para o som que se consolidaria nos anos seguintes, mas sim por sua obra em si, que permanece atual.

É impossível não reconhecer o mérito de seus arranjos. Clássicos nacionais e até internacionais, como My Love (de Paul McCartney), Mrs. Robinson (de Paul Simon) e Goodbye Yellow Brick Road (de Elton John) ganhavam um colorido diferente nas versões com o irresistível balanço soul de Erlon, que ainda se arriscava como cantor em algumas ocasiões, muito embora o arranjo e a condução da banda fossem o seu ponto mais forte.

Espero que as gravadoras e mesmo os produtores culturais do País olhem para sua obra com a merecida atenção.  Felizmente, parte de sua produção pode ser conferida em vários vídeos do youtube.

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