Texto porLuiz Fernando Almeida

Vem comigo!

 

Parou por um instante, olhos fixos nos meus, não desviou por nenhum momento. Parecia que o resto não lhe importava, não havia resto, apenas meus olhos e o que poderia ser lido dentro deles.

 

Eu estava sentado num canto, havia desistido da festa, estava chata demais, abraçava as pernas o braço esquerdo, o direito levava o cigarro até a boca.

 

Ele continuava me olhando e sorrindo. Era o sorriso de um homem que deseja outro homem. Não era a primeira vez que isto me acontecia, isso nunca foi  um problema, não havia o que temer.

beijo bear

Num movimento que pareceu durar uma eternidade, ele, sempre com os olhos fixos nos meus (e por um instante senti que aquilo começava a me incomodar), tirou um cigarro do bolso, colocou na boca e pediu-me fogo.

Decidi então, jogar o jogo de jogar o jogo.

Sem tirar os olhos dos olhos dele procurei o isqueiro, não gosto de emprestar o meu cigarro para que se acenda outro, encontrei e estendi já aceso na direção dele.

Enquanto acendia o cigarro baixou os olhos, quando voltou a olhar para mim, sorria, não me contive, sorri também. Então ele pediu para sentar ao meu lado, eu deixei.

Conversamos o resto da noite sobre música, teatro, cinema, moda, viagens. Acontecia uma festa em torno de nós, falávamos um no ouvido do outro. Às vezes, era preciso se aproximar um pouco mais – eram os únicos momentos em que deixávamos de nos olhar diretamente nos olhos.

Então ele me disse que eu parecia muito serio. Eu disse que era. Ele perguntou por quê? Eu disse que já não sabia mais, fazia muito tempo que eu era assim.

Ele estendeu a mão e tocou meu rosto. Era a mão de um homem que deseja outro homem, eu recuei, ele não desistiu, veio na minha direção, fechei os olhos e deixei que sua boca se encontrasse com a minha.

Sem culpa, sem medo. Eu jamais teria como afastar aquela boca da minha, eu jamais teria como expulsar aquela mão que me acariciava tão ternamente. Os erros que eu costumo cometer estavam longe, do outro lado, em outros olhos e  bocas de homens.

Não sei quanto tempo se passou. A festa estava no fim. Ele, então, levantou e me esticou a mão. Vem comigo. Eu segurei firme na mão dele. Para onde ele me levasse eu iria.  Não poderia deixar de olhar naqueles olhos novamente. Então, eu fui…