Texto porLuiz Fernando Almeida

A carta que me fez chorar

Eu choro até em posse de síndico. Essa é a grande verdade. Mas hoje, ao me deparar com essa carta eu chorei como uma criança que é abandonada pelos pais na rua e não sabe pra onde ir. E chorei, porque senti a dor desse pai/avô e a dor desse filho, renegado pela própria mãe. Que tipo de ser humano ainda e capaz de fazer isso com o próprio filho? Até quando teremos que ler essas notícia falando de intolerância nas famílias que machucam tantos gays?

O que dizer de um pai que escreve uma carta para sua filha homofóbica, que expulsou o filho de casa depois de contar que é gay, uma carta onde simplesmente acaba com ela? Aposto que a homofóbica ficou com a cara na poeira, já que o pai dela simplesmente arrasou no que escreveu.

Juro que gostaria de entender o que leva um pai ou uma mãe a ter uma atitude tão homofóbica com seu filho, a ponto expulsá-lo de casa ou até mesmo de espancá-lo. Há diversos casos, de pessoas próximas até, que tem problemas em casa por conta de sua sexualidade.

Eu não fui expulso de casa, mas não foi nada simples assumir minha sexualidade pra uma família careta e evangélica. Acabei saindo de casa, mesmo não me sentindo mal com isso, minha mãe, jamais faria algo assim comigo. Já meu falecido pai e meu irmão nunca aprovaram, mas duvido que chegassem a este extremo. Minhas primas evangélicas? Elas não aceitam, e preferem não tocar no assunto. Não foram assistir a minha peça “Dama da Noite” até hoje por puro preconceito, mas nunca me viraram as costas e sei que jamais farão. Sabe por quê? Porque apesar de não entenderem, meus familiares me amam e acima de tudo, me respeitam pelo homem que sou. Minha sexualidade, apesar de incomodá-los, é apenas um detalhe.

Mas e ai na sua casa? Como as coisas funcionam? Por mais triste que pareça, isso acontece com frequência e muitas vezes, com alguém que você conhece mas nem sabe desses detalhes sórdidos que normalmente as pessoas escondem.

Que bom que o filho dessa babaca homofóbica tem um avô que o ama de verdade e o acolheu em sua casa, renegando a atitude da filha. Quem sabe assim o Chad pode viver sua vida plenamente, ser ter ao lado alguém que não o compreende, que o ama da forma que ele é.

Pega o lencinho ai bee, porque agora só não chora, quem não tem coração.

carta

A carta traduzida:

Querida Christine,

Estou desapontado com você como filha.

Você esta certa sobre termos “uma vergonha na família”, mas errada sobre qual seja.

Expulsar Chad da sua casa, só porque ele lhe contou que é gay, e a real abominação aqui. Pais renegarem seus filhos é o que vai contra a natureza.

A única coisa inteligente que escutei você dizer foi que você não criou seu filho pra ser gay. Claro que você não o fez. Ele nasceu assim, e não procurou isso, da mesma forma como não escolheu ser canhoto.

Você, no entanto, fez a escolha de magoa-lo, ter a mente fechada e ser conservadora.

Então, já que estamos nessa de renegar nossos filhos, vou aproveitar o momento, pra lhe dizer adeus.

Eu agora tenho um neto fabuloso (como dizem os gays) pra criar, e não tenho tempo pra ter uma vadia sem coração como filha.

Se encontrar seu coração, ligue pra gente.

Papai.