Texto porLudmilla Rossi
Santos

Pastel Folhado – Nostalgia santista

Para rechear a nossa tag nostalgia santista, vamos usar como ingrediente uma charmosa patisserie que ficava no número 446 da Washington Luiz, vulgo Canal 3. Era o Pastel Folhado, que durante muitos anos fez a alegria dos santistas que moravam entre o Gonzaga e o Boqueirão.

A padaria charmosa servia pães diferentes (muito, mas muito antes da invasão de empórios invadirem a cidade), como rosetas, ciabattas, baguetes gigantes e doces. Mas a especialidade era mesmo o pastel folhado – em versões doces e salgadas.

O gosto nada tinha a ver com aquele tradicional pastel de feira que conhecemos. Era uma massa hiper crocante, amanteigadinha como toda massa folhada e recheada na medida. Tinha de frango com catupiry, quatro-queijos, queijo e presunto, palmito, bacalhau e calabresa.

Os pastéis folhados doces eram os meus preferidos – a massa folhada tinha um “verniz de açucar” bem delicado, recheados com os sabores de goiabada (não tinha queijo), banana, doce-de-leite, maçã e chocolate, que era uma perdição. Nada de creme de chocolate, era chocolate puro mesmo, em barra!

A empresa Pastel Folhado começou suas atividades em 1993, e logo passou por uma expansão. Um ano depois já tinha sua filial do Guarujá inaugurada, e dois anos depois (96) a filial de Campos do Jordão foi aberta. Em 1997 a rede iniciou o sistema de delivery (que ficava na R. 28 de Setembro, em Santos).

Inovação no mercado de Santos

Vamos combinar que isso aconteceu há quase 20 anos, ou seja, se pensarmos bem praticamente não existia o formato de empório e padaria de luxo que existe hoje na cidade. O Pastel Folhado foi pioneiro em lançar baguetes e pães recheados, sanduíches de metro, além de vender queijos e frios nacionais e importados, carne maturada do Bassi, carpaccio, tábuas de frios e patês por kilo. Outra inovação era a massa de pizza folhada, ou seja, era possível comprar o disco de massa folhada e preparar uma pizza única e diferente em casa.

No Pastel Folhado foi a primeira vez que eu vi a marca Lindt (chocolates), ou seja, eles me levaram para o mal caminho.

“Quando entrei a primeira vez no Santa Marta, parecia um bobo, procurando as marcas dos produtos que tínhamos na época tava tudo lá…” – Contou Santiago Carballo, fundador e antigo dono do Pastel Folhado.

Antes de abrir a casa, Santiago fez uma pesquisa em São Paulo, visto que esse tipo de estabelecimento já despontava por lá. “Visitei a La Baguette, o Le Crocquant, o Empório Santa Maria, o Benjamim Abraão, o Mercado das Novidades (esse era meu preferido, fica na Rua Aurora, no meio da zona em SP)“- Conta o empreendedor.

 


Não há registro fotográfico, nem do logo do Pastel Folhado. O próprio Santiago não tem esse material.
E eu fui no fundo da minha memória lembrar de como era a marca e a reconstruí! O Santiago disse que ficou beeem parecido!


Santiago vendeu o Pastel Folhado em 98. Um pouco depois, a empresa encerrou suas atividades. Obviamente (com certa saudade) perguntei a razão do encerramento do negócio: “Abri a loja pra vender lojas, e não pra vender pastel. A ideia era formatar franquias. Quando chegou a hora de decidir franquear, chamei várias consultorias de franchising pra formatação. O preço era o mesmo que montar uma loja nova. Meu sócio, na época, achou que já estava bom e não quis arriscar de novo. Eu estava pilhado, e forcei a barra pra crescermos, e então decidimos montar o Guarujá. O sócio topou, só que lá perdemos dinheiro. O Guarujá desliga no fim de janeiro. As contas não. Aí o Canal 3 teve que suprir esses custos.” – Explica Santiago.

Problemas no negócio

Santiago ainda contou que Outro fator foi uma mudança nas mãos das ruas vizinhas, feita pela CET/Prefeitura. Foi feito um retorno junto à R Mato Grosso, tirando as vagas de estacionamento no canal. Em 31 de julho de 1996 mudou tudo, e em agosto o movimento do Pastel Folhado caiu mais de 40%. Não é preciso ser um gênio da matemática para saber que isso não sustenta uma empresa.

Para tentar preservar o negócio Santiago Carballo conta o que tentou: “Fui na CET conversar pra pensarmos juntos alguma alternativa (cheguei a propor pagar a obra pra gerar um “bolsão” de estracionamento na calçada do canal), além de pedir a ponte em frente ao posto, que só saiu anos depois de já termos vendido a casa”.

Além de todos esses fatores, o empresário coloca o desgaste entre os sócios do Pastel Folhado como outro ponto para o fim da empresa, alguns com problemas pessoais, e a empresa acabou sendo vendida para outra pessoa que não era do ramo.

Além das saudades da loja, a história do Pastel Folhado tem uma bela lição de empreendedorismo. O sucesso foi enorme, o empreendimento teve seu pay-back em 1 ano. Quando perguntei ao Santiago o que foi mais legal de tudo isso, ele responde: “Essa experiência de desenvolver um produto inédito, se atrevendo a fazer uma casa baseada nesse produto, pensar todas as estratégias pra divulgar esse negócio que ninguém conhecia, lidar com agência de publicidade, produtora de video, mídia (tv, radio e jornal). Isso foi uma aventura exploratória fantástica pra mim”.

Também no Canal 3, outro estabelecimento deixou saudades: o Bar do 3. Fizemos uma entrevista em vídeo com o Michel, clique aqui para ver.

E aí, quem ficou órfão da rede Pastel Folhado?